Mais uma cicloviagem com o grupo Procurando Nova Rota, um grupo araçatubense que nasceu na cicloviagem que fizemos “ Caminho das Missões”. A partir dessa viagem sempre que possível combinamos um pedal pelo Brasil afora. E desta vez escolhemos Os Caminhos de Caravaggio.
Fomos em 7 ciclistas: eu, Cineide, Marcinha, Nilson, Wagner, Reinaldo, Zé Marques, Nilson e a Márcia no carro de apoio. Sim, tive apoio (raro, mas acontece). Sempre que viajo com esse grupo tenho o privilégio de usufruir da “mordomia” de não precisaria me preocupar com bagagem, mecânica, primeiros socorros, alimentação e água. Perfeito!!!!
Mas, de Araçatuba (São Paulo) a Canela (Rio Grande do Sul) ponto de partida da rota, são 1.265 km , o jeito foi encarar uma viagem de carro por dois dias, carregando as bicicletas para mais uma cicloviagem: Caminhos de Caravaggio.
A rota Caminhos de Caravaggio
A rota Caminhos de Caravaggio, que foi lançada oficialmente em 2019, passa por quatro cidades da região turística das Hortênsias. Entre elas Canela, Gramado, Nova Petrópolis e Caxias do Sul, além da cidade de Farroupilha. Um trajeto de 200 km liga os santuários de Caravaggio de Farroupilha e Canela .
A inspiração para criação do Caminho de Caravaggio veio do antigo Caminho de Santiago da Compostela. Os peregrinos iam de todos os lugares da Europa para fazerem a caminhada até o noroeste da Espanha, onde acredita-se que o apóstolo Tiago esteja enterrado.
As semelhanças com o Caminho de Santiago de Compostela não ficam apenas no conceito turístico religioso, mas contempla também todo um envolvimento cultural de uma região com forte presença européia, histórias e exemplos de superação pelos imigrantes italianos e alemães que se instalaram por lá.
E assim, como o Caminho de Santiago a rota possui sinalização com setas amarela e o passaporte do peregrino.
O percurso pode ser feito a pé, de bicicleta ou de carro. No caso das caminhadas, os organizadores do projeto sugerem aos peregrinos que andem de 18 a 25 quilômetros por dia, o que consiste em 10 dias inserido nos Caminhos de Caravaggio. Já de bicicleta é possível fazer em 5 dias ou menos, depende do objetivo do ciclista.
Sinalização
O trajeto pode ser percorrido nos dois sentidos e está demarcado com placas e sinalização horizontal. Setas amarelas, se ele está pedalando no sentido Canela – Farroupilha. Se está realizando o percurso Farroupilha – Canela, as setas serão azuis. Em geral, o trajeto é muito bem demarcado, mas não contêm plaquinhas com indicações sobre a quilometragem percorrida.
Passaporte
No início do trajeto, o peregrino recebe uma credencial que que mostra o roteiro completo do percurso, dividido em 10 trechos, e também traz algumas dicas de locais para se alimentar e descansar. Ele deve ser carimbado em cada parada para comprovar o percurso percorrido. Ao final da jornada, ele recebe um certificado do Caminhos de Caravaggio.
O peregrino pode retirar a credencial na Central de Informações Turísticas de Canela no horário das 8h às 19h. Desse modo, neste passaporte você deve ter em média 2 carimbos por dia. Há também uma forma de pegar o Guia Oficial do Peregrino ou baixar o arquivo digital no site oficial.
Tipo de pavimentação
Em sua maior parte, o Caminho de Caravaggio é feito por estradas de pedriscos, vicinais de terra batida e, conforme a época, trechos de lama. Porém também existem partes asfaltadas ao longo do trajeto que passam por rodovias bem movimentadas e com tráfego de caminhões. Portanto, nesses momentos, é necessária uma maior atenção pois as estradas não possuem acostamento.
O caminho prioriza, principalmente, as estradas do interior, onde não apenas igrejas, mas também taipas, porões de pedra, pontes de ferro e vastas plantações formam cenários tão belos.
Infraestrutura
Ao longo de todo o Caminho de Caravaggio é possível encontrar pousadas para hospedagem , em sua maioria são locais familiares com pouco espaço. Dependo da época, a reserva é necessária porque o percurso ainda não é muito conhecido. No entanto, é importante ressaltar que um dos pontos altos desse trajeto é o excelente acolhimento tanto por parte dos hospedeiros, quanto da própria comunidade.
Altimetria
O Caminho de Caravaggio possui uma boa variação altimétrica. Dessa forma, em um único dia, o peregrino pode variar a altitude em mais de 1000 metros durante os 200 quilômetros de peregrinação.
Como chegar ao ponto de partida
A rota segue em ambos os sentidos, ou seja, de Canela a Farroupilha, ou de Farroupilha a Canela. Porém, como a rota que parte de Canela é a mais percorrida. Nós optamos por ela.
Nós fomos de carro, mas é possível seguir por ônibus ou avião. Há duas alternativas.
Seguir de Porto Alegre
Esta opção é a mais recomendada, pois há vários horários e opções de transportes seguros, confortáveis e sem trechos de muito trânsito.
Avião e ônibus – voo até o aeroporto de Porto Alegre. De lá, a companhia Citral, que possui um guichê bem ao lado da área de desembarque, oferece uma ampla grade de horários de ônibus até a rodoviária de Canela.
Avião e transfer – voo até o aeroporto de Porto Alegre. De lá, a companhia Brocker Turismo, que também possui um guichê na área de desembarque, oferece opções de transfer a Canela, aliada a um passeio turístico na região.
ou via Caxias do Sul
O Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, é de pequeno porte, mas empresas como Azul e Gol têm voos frequentes para o lugar.
Quem quiser chegar a Canela tem nesse aeroporto uma de suas opções, principalmente porque fica a apenas 77 km de distância da cidade. Por causa das tarifas praticadas pelas companhias, muitas vezes vale mais a pena utilizar o aeroporto da capital gaúcha do que um aeroporto do interior. De lá, há opções de ônibus ou transfer até Canela.
Canela : Nosso ponto de partida.
Hospedagem em Canelas
Apesar da imensa variedade de pousadas e hotéis, na cidade de Canela, nem todas as estão próximas ao ponto de partida – O Santuário de Caravaggio, distante do centro da cidade 8,7 Km. Nós optamos por hotel distante, mas pedalando não sentimos tanto.
Nossa rota no Caminhos de Caravaggio
Dia 1- Rota 1,2,3 e 4 do guia oficial – 68,5km
Bicicletas prontas, café da manhã farto e muita agua no carro de apoio e lá fomos nós. Partimos do hotel Tri Hotel onde estávamos hospedados em direção ponto de partida – o Santuário de Caravaggio.
Nossa viagem aconteceu em dezembro, as hortênsias um dos símbolos da região, estavam no seu esplendor. Por todo canto éramos surpreendidos pelo seu colorido: azul, rosa, branca. Um espetáculo de encher os olhos.
Pedalamos até lá e voltamos novamente no sentido de Canela seguindo as placas amarelas. (Essa ida e vinda aumentou nosso percurso em 17,4km). Em Canela passamos pelo centro de informações turísticas para pegarmos nossos o Passaporte e o Guia do Peregrino. Lá tivemos uma notícia muito triste – muitos dos pontos do Guia fecharam pela pandemia (alguns em definitivo e outros temporariamente).
Passaporte carimbados, hora de seguir pedalando. Avançamos de acordo como guia e logo chegamos na saída do Rota 2 – supermercado Rissul em Gramado. Dali seguimos em direção ao interior da cidade, onde a famosa localidade nasceu.
Este trecho é cheio de paisagens lindas, porém, ele é feito em sua maior parte em asfalto sem acostamento. Eu particularmente não gostei de pedalar por ali. Achei muito perigoso. Foi necessário redobrar a atenção.
Distrito de Linha Bonita
Avançamos pedalando em direção ao distrito de Linha Bonita, onde imigrantes italianos se instalaram e depois para Linha Nova – primeiro distrito de Gramado, fundado por antigos tropeiros.
Na estrada de Linha Nova passamos pela Casa Centenária construída em madeira sobre um porão de pedras. Linda de ver! Descobrimos depois que a proprietária, com 87 anos ainda vive e mantem a casa, não permitindo que a família a venda. É possível visita-la mediante agendamento, mas infelizmente a casa estava fechada.
Deixamos Gramado e seguimos pedalando em direção à Vila Oliva – distrito de Caxias do Sul.
O percurso continua até a Ponte do Raposo, que liga Gramado à Caxias sobre o rio Caí um dos mais bonitos. E avança costeando paredões e morros da região até a chegada ao rio. Ali fizemos uma parada para aprecia-lo. Depois seguimos por um trecho bem íngreme. Foram dois quilômetros que exigiram muito.
Dali seguimos pedalamos e mais uma vez enfrentamos muita subida.
Finalmente chegamos a Pousada da Dona Solange e fomos muito bem acolhidos. Um local simples e de boa comida.
A noite choveu torrencialmente, o barulho da chuva e o cansaço proporcionaram uma boa noite de sono.
Dia 2- Rota 5 e 6 do guia oficial – 42,4 km
A chuva que caiu durante a madrugada persistia pela manhã. Tomamos um café farto sem pressa, na expectativa de que ela fosse embora. Estávamos todos decididos a seguir viagem, então por vota das 10 horas sob uma chuva fina seguimos pedalando.
A chuva cessou no trajeto do Vale do Caí, mas ainda com nuvens sobre os morros da região até que finalmente o sol resolveu aparecer.
Entre o trecho quatro e cinco há um trajeto de cinco quilômetros que se repete, de Santa Lúcia do Piaí até a via que segue em direção a divisa com Nova Petrópolis, acabamos contratando uma caminhonete para nos levar, eram apenas cincos quilômetros de volta, mas uma subida absurda.
Avançamos pedalando até que passamos pela segunda vez a travessia do rio Caí – a ponte do Pedancino, e novamente enfrentamos mais uma subida para Linha Brasil em Nova Petrópolis.
O rio Caí é o coração do Caminho, é possível vê-lo por diversos ângulos, morros e pontes.
O trecho seis segue inteiramente dentro de Nova Petrópolis. Seguimos pedalando até o Hotel serrano, onde passaríamos a noite. A cidade é muito charmosa e possui uma praça que encanta. Eu já havia visitado a cidade, quando fiz a Rota Romântica.
Dia 3 – Rota 7, 8,9 do guia oficial 36,6 km
Deixamos Nova Petrópolis e seguimos em direção à Vila Cristina, novamente para Caxias do Sul. O trajeto é lindo, as paisagens iam se mostrando conforme íamos avançando.
Fizemos uma parada para apreciar uma plantação de abobora. O verde intenso e as abobrinhas amarelas chamaram a nossa atenção. Paramos e fomos falar com o produtor rural. Atencioso falou com orgulho sobre a colheita e nos ensinou a colhê-las.
Dali seguimos para o trecho mais perigoso de todo o Caminhos de Caravaggio: pedalar no asfalto da BR-116. Foram 13 km de muita tensão.
Passamos por Nova Palmira, região alemã que deu origem a cidade de Caxias do Sul com suas casas enxaimel antigas. Depois de um curto trecho de estrada de terra, voltamos para o asfalto por cerca de 5km até a entrada em direção ao Morro da Glória.
Na estrada encontramos um barracão e descobrimos que ali haviam pessoas selecionando e embalando pêssegos. Curiosos fomos logo, nos apresentando e perguntando sobre todo o processo deste a colheita até a chegada ao consumidor.
Foi interessante ver como os pêssegos são selecionados: há os que ficaram na região ( os mais maduros) e os que são exportados.
Seguimos pedalando, agora acompanhado pelo Arroio do Ouro e seu incrível vale! Chegamos ao final do trecho oito sem maiores problemas – na Capela de Caravaggio ou Caravaggeto em Nova Milano-Farroupilha.
O destino final do dia (Casa Colombo)
A Casa Colombo estava se aproximando, estávamos agora no trecho nove e seus quase 15,5km. Seguimos ainda encantados com vale do Arroio do Ouro.
No caminho encontramos a pior subida de todo o trajeto – apenas 2,5km, mas uma subida íngreme e interminável.
Chegamos à Pousada Casa Colombo já no fim do dia. Na propriedade estava o seu Antônio Colombo e sua esposa, dono da vinícola e nosso anfitrião. Ela nos explicou como funcionava a hospedagem e mostrou a casa centenária de seus avós, lugar onde nos hospedaríamos.
Nós fomos logo comprando um espumante e fomos curtir a vista maravilhosa do vale. Depois jantamos e partimos para a última noite antes de chegar ao Santuário de Caravaggio em Farroupilha.
Dia 4 – Rota 10 24,5 km
Pela manhã tomamos um delicioso café da manhã, regado a bolos caseiros. Nos despedimos do Sr. Antônio e seguimos para o último trecho de 24km.
O dia amanheceu com a temperatura bem mais amena. Seguimos pedalando pelo asfalto por perto de vinícolas.
Depois de um longo trecho no asfalto entramos em uma trilha, na saída avistamos a igreja mais antiga de Farroupilha e mais antiga da Diocese de Caxias do Sul, de 1886 a Igreja de São José foi reformada e está em ótimas condições.
Seguimos e mais um pouco entramos na RS-122. Uma rodovia muito movimentada, é necessário fica bastante atento.
As placas apontavam para a esquerda na direção de uma estradinha secundária e logo vimos a primeira placa escrito Caravaggio.
Não demorou e encontramos uma placa: 1km para o Santuário. Já era possível avistar o Santuário, é uma grande reta. Seguimos pedalando até chegarmos ao Santuário de Caravaggio de Farroupilha!
Ao chegar ao Santuário tocaram o sino. Foi lindo. Visitamos as igrejas. Lá não havia quem entregasse os certificados. Fomos até um hotel próximo e descobrimos que eles carimbavam os passaportes e entregavam os certificados.
Foram cerca de 200 km pelo Caminhos de Caravaggio em apenas 4 dias pedalando, mais uma experiência incrível. Não foram fáceis. Enfrentamos várias subidas que exigiram muito, mas os trechos são lindos, cada um com suas características e belezas. Há muito asfalto e é preciso cuidado nas rodovias.
maravilhoso vou fazer com Ricardo
Ola ! Domingo passado , 23/08/2022 realizei.23 km do trajeto ! Minha promessa é este ano, fazer os 200 km !
Muito importante o depoimentos e informações de vcs !
Grande abraço