Copenhague a Gotemburgo de bicicleta:  Ciclovia Kattegattleden

478,51 km: esta é a distância que percorri de Copenhague (Dinamarca) a Gotemburgo (Suécia). De Berlim, na Alemanha, até Helsingborg, na Suécia, foram 51,2 km pela Ciclovia National 9, dali a rota segue pela Ciclovia Kattegattleden. Ao longo da Kattegattleden percorri 427 km (houve alguns desvios – oficialmente são 390 km). No geral percorri uma média de 53 km por dia com pico de 76 km no 8º dia.

9 Etapas: este é o número exato de dias de ciclismo efetivo que levei para realizar o percurso. Mas em Helsingborg eu fiquei dois e em Gotemburgo fiquei 3 dias. Considerando as paradas, a viagem durou 14 dias.

2 países: Dinamarca e Suécia. Contemplei e explorei tudo com calma. No espaço de poucos dias, encontrei na Alemanha muitas florestas e na Suécia encantadoras cidades litorâneas, cidades medievais e as regiões vinícolas da costa sudeste.

Na parte 1 relato todas as dicas para pedalar tranquilamente pela Kattegattleden. Ela poderá responder às suas perguntas de logística para percorrer a rota. Como chegar? Que bicicleta usar? O que levar nos alforjes? E como é a rota?

A parte 2 está relacionada à minha viagem. Os lugares que visitei, as cidades, as vilas e todos os momentos de liberdade que desfrutei.

      A Ciclovia Kattegattleden

A Ciclovia Kattegattleden é a primeira rota nacional de ciclismo da Suécia. Leva o nome do mar entre a Suécia e a Dinamarca: Kattegatt.

A rota segue a costa de Helsingborg, na província de Skåne, no extremo sul da Suécia. Em seguida, passa pela próxima província em direção ao norte : Halland, e termina em Gotemburgo, na província de Bohuslän, mais perto da fronteira com a Noruega.

Para obter mais informações sobre a rota, consulte aqui. 

A rota 

Ao longo de aproximadamente 400 quilômetros, é possível desfrutar de paisagens deslumbrantes. A rota passa  por belas paisagens costeiras e pitorescas vilas de pescadores.

Também por cidades históricas como Helsingborg, Höganäs, Ängelholm, Båstad, Laholm, Halmstad, Falkenberg, Varberg, Kungsbacka e Gotemburgo.

Em todas  as paradas a possibilidade de aproveitar e aprender  sobre a história e cultura local são infinitas.

A rota  é dividida em 8 seções, para que você possa escolher os trechos que deseja.

O percurso

O ciclismo ao longo de Kattegattleden não é exigente. Existem poucas colinas difíceis para enfrentar.

A principal dificuldade para pedalar na costa oeste da Suécia é o vento. Às vezes pode soprar com força, não apenas do mar a oeste, mas também de outros direções. Embora isso possa atrasá-lo, não é um grande problema, a menos que haja uma tempestade, o que é mais comum nos meses de inverno.

A vantagem desta rota é que grande parte dela é em ciclovias asfaltadas, mesmo em áreas rurais. A Suécia há muito tempo estabelece ciclovias  na maioria de suas cidades e vilas. Você pode pedalar despreocupado com o tráfego rodoviário. Há mais problemas com o compartilhamento de espaço com pedestres, especialmente em áreas urbanas. Mas, há pequenos trechos  em florestas e estrada não pavimentada.

Sinalização

De Copenhague a Helsingborg  a sinalização segue a  da Ciclovia Nacional 9.  A partir dali a  Ciclovia Kattegattleden, é sinalizada por  placas vermelhas e brancas com o número 1 ao longo da rota. É bem-sinalizada e raramente foi preciso usar um mapa para encontrar o caminho. As ciclovias coincidem com a EuroVelo 7 e 12.

Quanto dias para percorrê-la?

Aqui, mostrarei como percorri a ciclovia em 9 etapas. Mas depende do seu nível de condicionamento físico e de quanto você deseja pedalar a cada dia. Um ciclista médio pode levar entre 4 e 7 dias para percorrer toda a rota, dependendo do seu ritmo.

É importante lembrar que é uma ciclovia de longa distância. Portanto, com algum ganho de elevação e diferentes terrenos a serem vencidos. É importante se planejar com calma e não tentar pedalar distâncias muito longas todos os dias.

Quantos quilômetros devo fazer em um dia?

Se você está em muito boa forma, 60 a 80 km por dia não é irreal. Caso contrário, você deve se contentar com 30 a 40 km por dia.

Lembre-se de que uma viagem de bicicleta também significa ver e fazer coisas ao longo do caminho. Sempre planeje um pouco de tempo extra para possíveis desvios. O melhor às vezes está fora do percurso. Explore.

Devido à boa infraestrutura ao longo do caminho, é uma cicloviagem  fácil de organizar.

Qual bicicleta levar ou alugar?

A Ciclovia Kattegattleden é uma rota relativamente plana, você realmente não precisa ter uma bicicleta top para fazer o percurso. Como sempre, há mountain bikes e bicicletas híbridas. Havia um pouco mais de híbridas na rota porque seguimos por ciclovias, onde elas se adaptam bem. Eu encontrei muitas bicicletas elétricas. E vários pontos de recargas de bateria. Mas convém lembrar que há  trechos de cascalho. A escolha é tua.

Você pode levar sua bicicleta. Aqui você encontra informações sobre como transportar a bicicleta na viagem. 

Como é uma rota possível de ser completada em até dez dias, compensa alugar uma bicicleta.  Existem empresas de aluguel de bicicletas que organizam a entrega e recolha das bicicletas no local planejado. 

O que levar no alforje?

Quando se trata de bagagem, vale o seguinte: o mínimo possível, o máximo necessário. Aqui está uma lista do que na minha opinião são as coisas mais importantes que se deve levar.

Além disso, não se esqueça de verificar sua bicicleta cuidadosamente antes da viagem. Viajar de bicicleta é definitivamente mais divertido quando as marchas e os freios são ajustados corretamente e todas as partes móveis são bem lubrificadas. Você também deve verificar os pneus antes do passeio. Recomendo que aprenda o básico da mecânica de bicicleta, como por exemplo trocar um pneu.

É aconselhável ter algumas ferramentas na bagagem: alavanca de pneu, kit de reparação/câmara de substituição e, claro, uma bomba de bicicleta.

Quando ir?

A melhor época na minha opinião é de maio a setembro. Embora você provavelmente possa ir o ano todo. Tenho como lema que a melhor época é a que você pode ir. Se prepare para a data disponível e não deixe esse detalhe ser um empecilho.

Eu como sou aposentada, mãe de filhos adultos, escolho sempre viajar entre fim de abril e começo de novembro.  Procuro evitar o mês de agosto – férias escolares na Europa e os meses de  altas e baixas temperaturas.

Essa viagem aconteceu no período de 22 a 31 de maio 2023 – primavera – minha estação preferida.

O ponto de partida

Helsingborg é uma cidade costeira no sul da Suécia, do outro lado do Estreito de Øresund na Dinamarca, que fica a oeste. É conhecida por sua cidade velha, lar da torre medieval Kärnan, o único elemento sobrevivente de uma antiga fortaleza

Do Brasil a melhor opção  é voar para Copenhague. Há uma boa conexão ferroviária diretamente do aeroporto  (Kastrup) para Helsingborg (cerca de 1,5 horas de trem) e Gotemburgo (cerca de quatro horas de trem). As bicicletas são transportadas nos trens Öresundståg para a Suécia.

Eu já estava em Copenhague, havia terminado a minha rota Berlim – Copenhague, então segui pedalando depois de um descanso de três dias.

Hospedagem

Em maio não tive problemas para encontrar um alojamento na ciclovia em cima da hora. Na alta temporada pode ser um pouco diferente.

Os alojamentos na rota são adequados para todos os gostos e bolsos, variando de albergues da juventude da Hostelling International, B&Bs (ou B&Ks, como também são chamados na Suécia) e hostel, além de hotéis.

Existem muitos parques de campismo ao longo da maior parte de Kattegattleden. Eu alternei de camping a hospedagem em hotel. Se você estiver pedalando em duas ou mais pessoas, realmente não é muito mais caro ficar em um hotel. Se você estiver pedalando sozinho, há uma diferença significativa de preço . Mas compensa optar por hostel  – são vários e ótimos. Eles são os meus preferidos.

Camping Selvagem

Em muitos países da Europa o camping selvagem é terminantemente proibido. A boa notícia é que na Suécia, como a Noruega e a Finlândia, tem uma lei chamada Allemansrätten – literalmente “todos os direitos dos homens”. Na Suécia, esta lei existe há centenas de anos e confere o direito de pernoitar em acampamento selvagem na maioria dos lugares.

Existem algumas exceções, como instalações comerciais e governamentais, jardins populares, reservas naturais ou no meio das plantações de um fazendeiro. Requer um pouco de discrição na escolha do local onde montar a sua tenda ou acampamento. Requer também alguns cuidados para não deixar vestígios do seu pernoite, respeitando o ambiente  sua flora e fauna, e removendo qualquer sinal da sua presença ali.

Que orçamento você deve planejar?

Tudo depende de como você quer viajar. Se você quiser acampar durante o trajeto, há várias opções de parques de campismo. Você pode gastar entre 10 e 15 € por dia, em média, com bastante facilidade. Se gosta de um pouco mais de conforto, conte entre 50 e 80 euros por diária em regime de alojamento e café da manhã.

Quanto à alimentação, o custo também varia de acordo com as escolhas. Os supermercados oferecem uma variedade de comidas embaladas que valem a pena, já os restaurantes costumam ser mais caros, principalmente na Escandinávia.

Minha viagem

1ª Etapa: Copenhague / Helsingborg 51,2 km

Sair de Copenhague não foi difícil, cheia de ciclovias e muito bem-sinalizadas. Rapidamente, me integrei ao fluxo movimentado de dinamarqueses que se deslocavam pelas ruas, indo apressadamente para seus destinos.

A seguir foi só me orientar a partir do centro da cidade e seguir direto para o norte até  Klampenborg. Dali o percurso continua ao longo da Estrada Costeira (Kystvej) ao norte, paralela ao mar.

À medida que Copenhague vai ficando para atrás, a paisagem  fica cada vez mais aberta. As casas são menores, há mais jardins, parques e vistas da costa . É uma área muito mais tranquila e muito bonita de se ver.

No caminho há dois lugares de grande interesse. Em  Rungsted é possível visitar o Museu Karen Blixen Rungstedlund – o lugar foi a casa de Karen Blixen — famosa escritora dinamarquesa nascida  em 1885 e viveu na cidade toda a sua vida. Infelizmente, os visitantes não podem tirar fotos, mas clique aqui para ver a imagem do site do Museu Karen Blixen.

Museu Karen Blixen Rungstedlund

Museu Karen Blixen Rungstedlund

O Palácio Sophienberg em Rungsted Kyst

O Palácio Sophienberg em Rungsted Kyst

Humlebaek - Louisiana Museum of Modern Art

Humlebaek – Louisiana Museum of Modern Art

De Humlebaek segui pedalando por uma ciclovia fantástica, às vezes isolada, às vezes anexa à via principal, passando por pequenas cidades costeiras, e alguns bosques. Nos últimos quilômetros , quando segue paralela à costa , é especialmente bonita. A costa sueca pode ser vista do outro lado do Estreito de Øresund.

Uma outra parada obrigatória e na cidade de Helsingør . Nela é preciso pegar uma balsa para  chegar a Helsingborg.

Helsingør

Antes de seguir viagem, decidi explorar a pequena cidade, popular por ser o local onde William Shakespeare definiu o enredo de sua obra Hamlet. O castelo de Kronborg , em perfeito estado de conservação , é o símbolo da cidade.

castelo de Kronborg

Castelo de Kronborg

A capela do castelo  

Mas Helsingør não se resume ao seu emblemático castelo. Também digno de visita é o Mosteiro das Carmelitas – Karmeliterklostrer (um dos mosteiros medievais mais bem preservados em toda a Escandinávia). No mosteiro fica a Igreja de Santa Maria (St. Mary’s Church) um exemplo impressionante de arquitetura sacra.

Outra igreja que vale a visita é a Igreja de Santo Olavo – Saint Olaf ‘s Church (que é hoje a catedral da cidade).

Também merece destaque o Helsingør Værftsmuseum: Este é um museu de estaleiros que explora a história da construção naval em Helsingør. 

St. Mary’s (Sankt Mariæ Kirke)

St. Mary’s (Sankt Mariæ Kirke)

Igreja de Santo Olavo – Sankt Olai Kirke

Igreja de Santo Olavo – Sankt Olai Kirke

Depois de percorrer a cidade, segui direto para o porto. Dali uma balsa sai a cada  hora para Helsingborg. A viagem leva 20 minutos e custa 69 DKK (aproximadamente 50 reais) por pessoa e 40 DKK (28 reais) por bicicleta.

Ao atravessar o Estreito de Øresund cheguei à Suécia e finalmente ao destino  do dia, Helsingborg.

Helsingborg

É uma das cidades mais antigas da Suécia. Fundada pelos dinamarqueses em 1085 DC e sob seu controle até 1658.  Helsingborg tem profundas raízes dinamarquesas e mantém relações amistosas com sua nação-mãe a 4 km de distância (Helsingør, Dinamarca). Suas torres de fortaleza medievais sobre a cidade , igrejas de pedra e edifícios de madeira tortuosos se alinham em encantadoras ruas estreitas.

Na cidade velha é possível visitar a torre de vigia Kärnan, o último remanescente sobrevivente de uma fortaleza. Do alto da torre a vista  da cidade e do Øresund até Helsingør (Dinamarca) é impressionante.

A Torre Kärnan é uma das últimas fortificações ainda de pé em Helsingborg, herança da época em que a cidade era disputada por dinamarqueses, suecos e outros povos. Construída na Era Medieval, tem 35 metros de altura e somente o térreo é de acesso gratuito. (infelizmente fechado quando passei por lá).

Torre Kärnan

Torre Kärnan

Outras atrações importantes são o

Radhuset ( prefeitura ) , a igreja gótica de Santa Maria do século XIV e o centro cultural de Dunker

A Radhuset  é um daqueles edifícios de estilo gótico, com uma torre de relógio gigante e algumas torres menores em volta, que se vê em algumas cidades europeias. É possível fazer uma visita interna (embora eu não tenha feito).

Radhuset ( prefeitura )

Radhuset ( prefeitura )

A Igreja de Santa Maria (Mariakyrkan) é uma igreja luterana, construída no século XII, um dos mais antigos edifícios de Helsingborg ainda de pé. 

Igreja de Santa Maria (Mariakyrkan)

Igreja de Santa Maria (Mariakyrkan)

Já o Centro Cultural de Dunker é um espaço que oferece exposições, concertos, teatro e dança, com uma vista fantástica do porto e de Øresund. Além disso, hospeda a Escola de Cultura de Helsingborg e com ela até 2.000 alunos por semana.

Dunker Culture House ( sueco : Dunkers kulturhus )

Dunker Culture House ( sueco : Dunkers kulturhus )

Decidi ficar dois dias em Helsingborg e explorá-la com tranquilidade.

2ª Etapa: Helsingborg / Mölle – 38,8 km

Logo pela manhã, deixei a cidade e segui pedalando para o norte. A ciclovia muito bem sinalizada segue ao lado do mar.  

Quatro quilômetros depois de deixar  Helsingborg, passei pelo Castelo Sofiero – infelizmente ainda era muito cedo e o castelo estava fechado para visitação.

Ao lado dele fica a Fazenda Sofiero um lugar com um café aconchegante.  Fiz uma breve parada para um café.

Depois  avancei pedalando por pequenas vilas de pescadores e marinas pitorescas, como Domsten e Viken. O percurso segue ao longo da costa, e a visão do mar brilhante sob a luz da manhã é mágica para dizer o mínimo.

Em Viken me surpreendi com uma igreja de madeira de 1825, uma das mais antigas da Suécia. O lugar encanta com a riqueza de detalhes. E como se não bastasse ainda tive o privilégio de ouvir músicas tocadas no antigo piano da igreja.

Ainda fascinada com o encontro, segui pedalando em direção a Höganäs uma importante região agrícola. Na região estão algumas das melhores vinhas de Skåne. Fiz uma breve parada em Höganäs para um lanche.

Depois de Höganäs, passei por pequenos portos e praias, como Strandbaden e Nyhamnsläge. O pedal continua por uma longa ciclovia ao lado do mar, passando por paisagens impressionantes até chegar à pequena Mölle. 

Decidi explorar a região e pernoitar por ali. Encontrei um camping muito acolhedor para repousar.

3ª Etapa:  Mölle / Ängelholm – 34,56 km

Mölle é vizinha da Reserva Natural Kullaberg, então pela manhã decidi  explorar a reserva antes de seguir viagem.  Meu objetivo era visitar Nimis* (1980-2021), uma enorme escultura de madeira flutuante do artista Lars Vilks. Fiquei curiosa com a história do artista e suas obras de madeira. 

Himmelstorp é uma fazenda de enxaimel, mencionada pela primeira vez em 1491.

Himmelstorp é uma fazenda de enxaimel, mencionada pela primeira vez em 1491.

Ao chegar na reserva, estacionei minha bicicleta e segui em busca da trilha que me levaria ao local.

Ao longo da trilha, há vários “N”s amarelos marcados nas árvores, sabia que essa era a trilha. Tentei seguir estas placas para chegar até Nimis. Mas conforme eu avançava percebi que o acesso estava cada vez mais difícil e muito íngreme. O isolamento, mais a dificuldade da trilha fizeram com que eu desistisse da ideia. Afinal estava sozinha, não me senti segura. Resignada, voltei para minha bicicleta e segui pedalando.

Nyhamnsläge

No percurso quando passava por Nyhamnsläge, avistei um grande moinho de vento. Percebi ali uma movimentação e várias pessoas no topo dele. Curiosa, fiz um desvio e segui até lá.

Chegando me deparei com um grupo de estudantes que ali estavam para ver o funcionamento do moinho. Me juntei a eles e fui privilegiada com a visitação. O nome do local é Bräcke Molla.

Dali segui pedalando pela bela península de Kullahalvön até a cidade de Ängelholm, fundada no século XVI. Neste trecho, passei por pequenos vilarejos , vinícolas e segui por muitas belas praias e pequenos trechos em floresta. 

No vilarejo de Farhult, perto de Jonstorp fiz uma parada para visitar a Igreja de Farhult (Farhults Kyrka), uma igreja medieval datadas  de 1200 e de estilo românico.

Igreja de Farhult (Farhults Kyrka)

Igreja de Farhult (Farhults Kyrka)

Depois dessa parada, segui pedalando até chegar em Ängelholm. Na cidade encontrei uma praça central pitoresca com uma arquitetura charmosa e edifícios coloridos. Decidi parar em um dos restaurantes e apreciar o movimento, antes de seguir em busca de um hotel.

4ª Etapa: Ängelholm / Båstad – 65,55km

Ängelholm  conhecida por seu histórico de interesse em avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs). Um avistamento notável de luzes estranhas nos céus em 1946 ganhou destaque internacional.Tanto que em 1972, um memorial foi erguido na floresta de Kronoskogen, próxima à cidade, em homenagem ao evento.

Decidi fazer uma visita ao memorial, o que me obrigou a fazer um desvio.

Para chegar ao local passei por trilhas bem estreitas e  uma grande floresta. Mas confesso que foi decepcionante.

Dali segui pedalando ao longo da costa em direção a Skälderviken, atravessando pequenas aldeias e vilas de pescadores ao longo do caminho.

A infraestrutura da Ciclovia Kattegattleden, impressiona. Pelo percurso banheiros e bombas para pneus estão disponíveis.

O vento estava implacável, com o rugido ensurdecedor do mar se misturando ao sopro forte. Essas condições dificultaram bastante o trajeto. Estava tão intenso que quase impediu o meu progresso; tive que empregar um esforço considerável para seguir mesmo alguns quilômetros.

Quando finalmente me deparei com um pitoresco porto na pequena cidade de Torekov, senti um misto de alívio e sorte.

A oportunidade de me abrigar e fazer uma refeição se mostrou um ponto de virada crucial. A pausa ali me deu o descanso necessário para recarregar minhas energias e continuar pedalando.

Segui  ao longo da costa até cruzar a Península de Bjäre.

No começo, foi uma subida leve, mas depois tive que pedalar mais forte para dominar a subida mais alta do trajeto. Depois de uma descida de tirar o fôlego ao longo do cume, cheguei em Båstad .

Båstad

A cidade costeira exalava um charme tranquilo, com suas ruas serenas e arquitetura que parecia contar histórias antigas. Minha primeira parada foi na igrejinha medieval conhecida como Igreja de Santa Maria.

A cidade é famosa por sediar grandes torneios de tênis . No início dos anos 1900, Ludvig Nobel (sobrinho de Alfred Nobel) esteve em Båstad e se apaixonou por sua beleza natural. Ele viu o potencial para o turismo e transformou a área em um destino turístico internacional. Ele se concentrou em atividades como golfe e tênis.  A cidade tem nada menos que 41 quadras de tênis.

Depois de explorar  a cidade segui para hotel. Estava exausta o dia  havia sido  realmente difícil. Teve subidas íngremes e ventos fortes.

5ª Etapa : Båstad / Laholm / Halmstad – 46,3 km

De manhã, refeita do cansaço do dia anterior, deixei a cidade e segui pedalando. No início segui o mar, a estrada costeira tem vistas panorâmicas de tirar o fôlego.

Assim que deixei a costa, passei por uma floresta de pinheiros em Hemmeslöv. Deixei para trás a província de Skåne e cheguei à província Halland.

A rota segue por belas paisagens naturais com praias formadas por longas dunas de areia até chegar a Skummeslövstrand e Mellbystrand. 

Praia de Mellbystrand

Praia de Mellbystrand

Em Mellbystrand fiz um desvio (quase 7 km) para visitar a aconchegante Laholm, a cidade mais antiga de Halland (fundada oficialmente no século 13). Demorei cerca de 20 minutos chegar. Mas, valeu a pena visitar seu charmoso centro histórico, onde edifícios de arquitetura tradicional e ruas de paralelepípedos dão a ideia de como era avida na idade média.

De volta à rota avancei em direção ao norte de Mellbystrand e novamente passei por um trecho ao longo de dunas de areia. 

Mas, logo voltei a pedalar por reserva naturais, passando por belas florestas de pinheiros. No caminho a sinalização está sempre presente, e ainda é possível encontrar banheiros em meio a floresta. 

 Antes de chegar em Halmstad, passo pela praia de Östra. 

Na chegada a rota passa bem ao lado do Castelo de Halmstad – o governador da província mora no castelo, que data de 1600. Não é aberto ao público, mas fiz uma parada para dar uma olhada, antes de seguir para o hotel.

Halmstad – recebeu o título de cidade em 1307, é a maior cidade de Halland. É conhecida como uma das melhores cidades de verão da Suécia.

6ª Etapa:  Halmstad / Falkenberg 59,12 km

Logo pela manhã deixei a cidade e segui pedalando para o oeste em direção a Tylösand – a praia mais famosa da Suécia. Na saída de Halmstad segui por uma ciclovia paralela a estrada, mas, logo passei por trechos de florestas.

No percurso uma curiosidade – uma área de descanso preparada por algum morador, com cadeiras e um recipiente cheio de suco de maçã – na placa estava escrito “självbetjäning” que significa self-service. Do lado o preço do suco e um recipiente para deixar o dinheiro. Simples assim – confiança.

Ali encontrei outros ciclistas, após uma breve conversa segui pedalando ao longo da Coastal Road até Ugglarp. No caminho fiz uma parada na charmosa vila de Steninge.

De Steninge segui pedalando em direção ao norte, onde a paisagem muda de estéril e rochosa para um cenário agrícola verdejante.   Avancei até chegar à praia de Ugglarp, onde fiz uma parada para apreciar a vista.

Praia de Ugglarp

De repente ouvi o som de uma música tocada por um instrumento de sopro. Segui a música e me deparei com uma garota de 10 anos (aproximadamente) no topo de uma pedra tocando uma espécie de corneta. Ao lado estava um casal e um garoto.

Me aproximei e fiquei observando a cena emocionada. Conversando com eles descobri que a família na verdade gravava um vídeo para parentes que vivem na Suíça. Eles estavam na estrada há um tempo e tinham uma viagem de seis meses programada. 

Ainda fascinada com o que havia visto, segui pedalando e à medida que avançava mais para o norte, via as casas de madeira pintadas de vermelho que são muito  características das paisagens campestres suecas.

A vista também é pontilhada por antigos moinhos de vento. Às vezes, eles são visíveis em cumes mais altos e, outras vezes, mais perto da costa.

Costa e mar, paisagens abertas, reservas naturais cênicas e encontros emocionantes… Foi um belo trecho entre Halmstad e Falkenberg.

Chegada em Falkenberg.

Falkenberg é  uma das mais antigas cidades medievais da província de Halland. Na chegada percorri as ruas da cidades, para conhecer um pouco do lugar. 

Falkenbergs kyrka

Falkenbergs kyrka

Saint Lawrence Church (Sankt Laurentii kyrka)

Saint Lawrence Church (Sankt Laurentii kyrka)

Depois de explorar a cidade, segui em busca de um hotel.

7ª:  Etapa Falkenberg / Varberg – 41,7 km

Depois de deixar Falkenberg, avancei pedalando por um trecho de costa que realmente dá vida à expressão “paisagem aberta”.

No caminho, passei por várias vilas de pescadores aconchegantes, como Lövstaviken, Glommen e Träslövsläge, todas dignas de uma parada. Além das praias passei por reservas naturais fabulosas.

Mas, o dia me preparou mais uma pequena surpresa. No meio do caminho encontrei uma pitoresca mini casa, pintada de amarelo e muito charmosa. O lugar claro, me chamou a tenção, então parei e entrei. Dentro uma faixa dizia “SMULTRONSTÄLLEN IN MORUP COM OMNEJD”.

Uma serie de folhetos estavam à disposição. Descobri depois que “Smultronställe” é um lugar considerado uma joia escondida que é difícil de encontrar se você não ouvir a respeito dos habitantes locais. Os folhetos ali eram recomendações dos moradores para passeios e lugares a serem visitados.

Depois da pausa, segui em direção a Varberg.

Ao me aproximar da cidade, passei por Apelviken, a praia que atrai muitos praticantes de windsurf de toda a Europa.

Da praia de Apelviken, um calçadão de aproximadamente 4 km de comprimento projetado em 1912 por “Sällskapet Varbergs Strandpromenader” me levou até a praia em Varberg. O percurso passa pela imponente Fortaleza de Varberg – construída no final do século XIII , segue por Varbergs Hamn (o porto) e Kallbadhus , um centro aquático e  finalmente chega ao  Societetsparken (Societety Park), fundado no ano de 1883 , é um dos parques mais famosos de Varberg.

Fiz uma parada para apreciar a Fortaleza de Varberg, depois segui para Societetsparken, no parque está uma das melhores e mais bem preservadas casas da sociedade da Costa Oeste, construída em 1886.

Varbergs kallbadhus

Varbergs kallbadhus

Societetsparken

Societetsparken

Depois de explorar a cidade, segui para o hotel .

8ª Etapa:  Varberg / Kungsbacka – 76,12km

Logo pela manhã deixei a cidade e segui em direção a Kungsbacka. À medida que avançava em direção ao norte de Varberg, a paisagem ia mudando. As praias arenosas vão se tornando cada vez mais raras e cada vez mais falésias aparecem. As primeiras ilhas tornam-se visíveis. O percurso é ligeiramente montanhoso .

Pedalei  em direção a Frillesås, a rota segue alternando ciclovia e pequenas estradas. Depois continua por antigo aterro ferroviário, um trecho sem carros ao longo da costa. 

No caminho passei por Åsa, e logo depois fiz um desvio e segui por Kläppa  em direção a Fjärås bračka. O objetivo era ver o Lago Lygnern o maior lago do condado de Halland. Realmente a vista do lago do alto da estrada é de tirar o folego.

Após Kläppa, em Torpa, é possível fazer um desvio de aproximadamente 5 km para visitar o Castelo de Tjolöholm, o único castelo da Suécia em estilo Tudor (o que eu não fiz).

Depois de contemplar vistas fabulosas do lago, avancei pedalando por pequenas estradas. A ciclovia segue ao lado de campos e fazendas de cavalos até finalmente chegar em  Kungsbacka – a cidade é um dos maiores centros comerciais do oeste da Suécia.

9ª Etapa:  Kungsbacka / Gotemburgo – 65,16 km

Deixei Kungsbacka, pela manhã na expectativa de percorrer a  última etapa do percurso. Logo na saída enfrentei uma ciclovia ao lado de uma estrada bastante movimentada. O barulho dos carros incomoda um pouco. Avançando  logo encontrei um museu de barcos. Fiz uma parada , mas infelizmente ainda era muito cedo e o museu estava fechado.

No caminho, a rota passa pela pequena vila costeira de Särö onde a realeza e a Sociedade de Gotemburgo divertiram-se durante o século passado. Na região há muitos campos de golfe e haras.

Mais perto de Gotemburgo, a rota segue passando por Nya Varvet, um bairro histórico e uma antiga marina; por Röda Stens Konsthall – um centro de arte contemporânea – e ainda pela praça Järntorget. O ultimo trecho  segue ao longo do Trädgårdsföreningen, um dos parques do século XIX mais bem preservados da Europa. Do parque a rota segue para o marco final em Drottningtorget, na Estação Central.

Em frente à estação está a placa sinalizando o fim do percurso.

Fiz uma foto e logo saí em busca de um marco importante na cidade para finalizar o dia. Escolhi o Skansen Kronan uma fortificação defensiva, erguida no século XVII, entre 1687 e 1700, no alto de uma colina, no bairro de Haga. Não foi fácil chegar ao topo da montanha, mas poder comemorar a chegada com a vista da cidade do alto foi memorável.

Após mais uma rota concluída descansei e explorei a cidade fundada pelos holandeses na Suécia e que hoje é a segunda maior deste país de Greta Thunberg e Greta Garbo. As possibilidades são muitas, então decidi ficar na cidade por três dias antes de seguir pedalando rumo a Noruega.