La Loire à Vélo :  Minha viagem

Cuffy : marco zero da rota La loire à vélo

Cuffy : marco zero da rota La loire à vélo

La Loire à Vélo : 918,18 km: esta é a distância que percorri ao longo do Loire, numa média de 54 km por dia, com pico de 98 km no 2º dia.

19 dias: este é o número exato de dias de ciclismo efetivo que levei para realizar o percurso. Mas houve cidades em que fiquei até três dias hospedada. Considerando as paradas, a viagem durou 30 dias ao todo.

9 castelos: este é o número de castelos que visitei no Loire. Como tinha muito tempo, explorei vários. Contemplei com muita calma o Château de Chambord; percorri os vários corredores do Château de Blois; caminhei nas pegadas de reis e rainhas no jardim do castelo de Villandry; segui as pegadas de Tintin e Snowy no Castelo de Cheverny; me encantei com o mundo de Leonardo da Vinci, no Castelo do Clos Lucé; no Castelo de Rigny-Ussé apreciei uma exposição de trajes de época da moda feminina do período entre guerras e admirei os outros castelos de fora enquanto pedalava.

Além dos castelos, tive a possibilidade de descortinar vários cantos da França: Loiret, Loir-et-Cher, Indre-et-Loire, Maine-et-Loire e Loire-Atlantique. No espaço de poucos dias, encontrei paisagens realmente diferentes, compostas por povoados situados às margens do Loire, que antecedem pequenas aldeias de pescadores bretões ou normandos no trecho de Nevers até Saint-Nazaire.

La Loire à Vélo : a rota

Rio Loire em Beaugency

La Loire à Vélo é uma ciclovia de 900 km: 630 km entre Nevers e o Oceano Atlântico, mais 270 km de voltas e variações em todo o percurso. Ela faz parte da rota europeia de bicicletas “EuroVelo 6”.

Perfeitamente traçada e sinalizada em ambas as direções, a ciclovia liga Cuffy nas terras do Cher a Saint-Brevin-les-Pins, onde o Loire deságua no Oceano Atlântico.

Margens selvagens, castelos do Loire, vinhedos nas encostas: O Loire à Vélo oferece paisagens únicas, algumas das quais foram classificadas no ano 2000 como “paisagens culturais vivas” na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Do Centre-Val de Loire ao Pays de la Loire, a rota do Loire à Vélo cobre as cidades emblemáticas do Vale do Loire. Orléans, Blois, Amboise, Tours, Saumur, Angers e Nantes são paradas essenciais. Ao longo do rio e de seus afluentes (Cher, Indre, Vienne, Maine, Thouet), a viagem segue pontuada por aldeias, adegas trogloditas, jardins florescentes e prestigiosos castelos do Loire. Nenhuma outra rota de ciclismo oferece tal compêndio de monumentos históricos. Do castelo de Sully-sur-Loire ao castelo dos duques da Bretanha em Nantes.

A La Loire à Vélo faz parte integrante do Eurovélo 6, uma importante ciclovia europeia com mais de 3.600 km que liga o Atlântico ao Mar Negro.

                                imagem cedida pelo blog queropedalar

Sinalização

A Loire à Vélo e a EuroVelo 6 estão totalmente sinalizadas em ambas as direções de leste a oeste. O logotipo da La Loire à Vélo é acompanhado por seu identificador europeu “EuroVelo 6” indicado nos painéis.

O percurso

O percurso original sem desvios está dividido em 8 etapas:

De Nevers à Gien: 124 km; Gien à Orléans: 78,5 km; Orléans à Blois: 71,5 km; Blois à Tour: 68,5 km; Tours à Saumur: 101,5 km; Saumur à Angers: 65 km; Angers à Nantes: 96 km; Nantes à La Baule: 90,5 km.

Claro que essa é apenas uma sugestão. São muitas as cidades, vilas medievais, castelos e tanta beleza natural no trajeto, que a melhor opção é seguir muito devagar. Fiz a rota em 19 etapas, usufruindo o máximo que podia. As vezes seguindo por desvios que me levavam a lugares encantadores.  

O caminho segue por ciclovias (30%) e por estradas pequenas com pouco tráfego (70%).

Acomodações

Espalhada ao longo do percurso, a oferta de alojamento é variada, para todos os gostos e para todos os bolsos. São mais de 400 alojamentos (campings, hotéis, pousadas, pensões). Uma opção é escolher as acomodações com o selo da Accueil Vélo (Boas-vindas aos Ciclistas), uma marca nacional que garante boas-vindas e serviços de alta qualidade. Ela foi criada pela France Vélo Tourisme e por organizações turísticas locais a fim de preservar a melhor recepção para os ciclistas em toda a França.

As hospedagens ficam a menos de 5 km do itinerário e garantem aos ciclistas serviços de qualidade como, por exemplo, uma garagem fechada. Dependendo da época da viagem é recomendável  reservar a estadia no alojamento com antecedência (incluindo parques de campismo), especialmente em zonas turísticas.  

Qual bicicleta levar ou alugar?

La Loire à Vélo e uma rota relativamente plana, você realmente não precisa ter uma bicicleta top para fazer o percurso . Como sempre, há mountain bike de um lado e mountain bike do outro. Encontrei os 2 ao longo do Loire e tudo parecia estar indo bem. Havia um pouco mais de VTC na rota porque, como seguimos ciclovias, ela se adapta bem, mas você pode escolher aquela de sua escolha. Eu até encontrei muitos VTCs elétricos.

Caso não queira levar a sua bicicleta , existem algumas organizações que alugam bicicletas ao longo do Loire para poderem fazer o percurso que desejar. 

O mais importante não é ter mochila mas, pelo contrário, alforjes na lateral da bicicleta (muitas vezes na parte de trás). Suas costas e seu corpo vão agradecer.

O que levar?

O principal objetivo é sermos leves e eficientes. Sou uma pessoa minimalista, e costumo lavar a roupa a sim que chego. Entã0 levei:

3 pares de roupas íntimas , 3 pares de meias, 2 legs ( não uso a de ciclismo),3 ou 4 camisetas de manga longa (incluindo uma para dormir e se sentir bem à noite),3 camiseta de manga curta um segunda pele, calças para chuva se necessário, um blusão impermeável ( é essencial!),um par de tênis para pedalar, um par de chinelos para ficar confortável à noite e ir tomar banho no acampamento e em hostel (quem sabe vai entender).

O kit de bicicleta ( ferramentas multifuncionais para bicicleta , uma boa bomba de bicicleta, capacete e luvas).

O kit de primeiros socorros e medicamentos de uso constante caso for o caso. Sempre levo creme dermatológico para micoses e remédio para sarna ( sim em uma viagem percorrendo o rio Danúbio peguei uma sarna insuportável e esse remédio alguns países exige receita medica. O caso aconteceu em Bratislava.

Trens e transporte de bicicleta no Loire à Vélo

Durante o período de verão, vagões são dedicados às bicicletas no Trem Loire à Vélo no trajeto que passa por Orléans, Blois, Tours, Saumur, Angers, Nantes e Le Croisic.

Este trem conta com vagas especialmente projetadas para bicicletas. Você pode levar sua bicicleta gratuitamente.

Como chegar a Nevers

Do Brasil segui em um voo até Paris, pousando no Aeroporto Charles de Gaulle.

O aeroporto é conectado à cidade por um serviço de trem, a linha B do Réseau Express Régional (RER). Em Paris, os trens que atendem pela sigla RER saem da região metropolitana e cortam a cidade. Além de serem econômicos, fazem ligação com o metrô no centro da cidade.

O tíquete deve ser comprado antes do embarque. Para chegar à bilheteria ou aos terminais de autoatendimento siga as placas Paris par train. Lembre-se de validar o tíquete antes de embarcar. O trajeto dura 25 minutos até a estação Gare du Nord. Já a estação Châtelet – Les Halles (uma depois da Gare du Nord) está interligada com mais linhas de metrô. A passagem custa € 10,00.

Foi na estação Châtelet – Les Halles que fiz a transferência para a linha M14 do metrô. Dali segui até a estação Bercy. Tudo muito bem sinalizado e tranquilo. Na estação segui até o guichê e adquiri minha passagem de trem da Intercités para Nevers. Uma viagem de quase três horas a um custo de € 30,00.

O ponto de partida

foto de Michel Peres

Nevers é uma adorável cidade histórica ao lado do Rio Loire; a antiga cidade, dominada pela silhueta de sua catedral gótica, esconde um importante patrimônio arquitetônico e artístico. Passei dois dias na cidade e pude explorar todos os cantos. A catedral de Saint-Cyr-et-Sainte-Julitte, com belos vitrais – cujas cores brilhantes e cintilantes difundem uma luz suave e multicolorida –, me deixou de queixo caído. É belíssima.

A catedral Saint-Cyr-et-Sainte-Julitte de Nevers

A cidade é fácil de ser explorada, basta seguir uma Linha Azul, desenhada nas ruas. Ela te leva a todos os pontos relevantes .

Entre tantos atrativos, um bastante procurado é o Espace Bernadette Soubirous, um antigo convento e a casa-sede das Irmãs da Caridade de Nevers, e é onde o corpo de Santa Bernadette repousa. Em 1970, foi convertido em um santuário administrado por voluntários e algumas irmãs que administram o edifício. Hoje é um lugar de acolhimento e centro de recursos espirituais. Os dormitórios, antes ocupados por postulantes e noviços, agora são usados por peregrinos que vêm rezar à Bernadette. Mas é possível se hospedar mesmo não sendo peregrino. Foi onde me hospedei. O atendimento é ótimo e o lugar é muito interessante.

Espace Bernadette Soubirous Nevers

Depois de explorar o lugar por dois dias chegou a hora de me despedir e iniciar a viagem. Estava muito entusiasmada com a ideia de fazer mais uma grande rota, depois de um longo tempo parada devido a pandemia da Coronavírus. Levei comigo minha carteira de vacinação da Coronavac.

Minha própria jornada de bicicleta, onde relato as etapas e os lugares que me marcaram no percurso. Talvez possa interessar a alguns seguir o meu caminho ou encontrar algumas dicas para levar consigo.

1º dia: Nevers/ la Charité-sur-Loire (56,5 km)

Minha partida foi por volta 9 da manhã, saindo do Espace Bernadette Soubirous. Preparei minha bicicleta lá. O tempo estava perfeito – céu azul, temperatura agradável e um sol que aquecia suavemente meu rosto. Estava muito entusiasmada com a ideia de fazer mais uma grande rota, depois de um longo tempo parada devido à pandemia de Coronavírus (tinha comigo meu passaporte de vacinação).

O Palácio Ducal

Deixei a cidade no sentido oeste ao longo do Loire, seguindo a rota EuroVelo 6. Pouco antes de Cuffy (em La Chaume), a rota se junta ao Canal Latéral à la Loire, correndo ao lado dele em direção a L’Aubrac. Cuffy é o marco zero da rota La Loire à Vélo.

A viagem seguiu tranquila até Marseilles-lès-Aubigny. Um ótimo lugar para se abastecer de mantimentos: frutas e água, além dos deliciosos pães. Parei em uma boulangerie (padaria), fiz um lanche e segui até o destino do dia, La Charité-sur-Loire:  uma encantadora cidade velha com uma ponte histórica sobre o Loire; a magnífica Basílica de Notre-Dame, um Patrimônio Mundial da UNESCO; o bairro das livrarias; o Museu e tantos outros encantos. Esta foi uma etapa muito fácil, principalmente ao longo das vias verdes, todas pavimentadas e planas.

La Charité-sur-Loire

dia  :  la Charité-sur-Loire / Gien (98,35 km)

Logo pela manhã sob um intenso nevoeiro, deixei a charmosa vila de La Charité-sur-Loire. Foi um dia cheio e com muitos desvios. Quando viajo de bicicleta exploro ao máximo o que o trajeto tem para me oferecer. Meus amigos dizem que não posso ver uma estradinha secundária.

Os desvios

O primeiro desvio foi o vilarejo Herry, para visitar a Igreja de Saint-Loup e seu belo trecho do Canal Lateral à la Loire. A igreja infelizmente estava fechada. Eu adoro visitar catedrais e igrejas. Nelas é possível apreciar várias manifestações de arte, inclusive a música através dos órgãos (sou apaixonada por eles).

Seguindo depois para uma parada rápida em Pouilly-sur-Loire. Os vinhedos de Pouilly cobrem pouco mais de 1.200 hectares. É possível encontrar adegas que oferecem degustação de vinhos. Infelizmente quando passei era cedo demais para uma taça de vinho. Outra opção interessante é uma visita ao o Pavillon du Milieu de Loire, um moderno espaço museológico dedicado ao grande rio.

E a viagem continuou passando por St-Satur:  uma pequena e animada cidade ao lado do Loire, com a sua atraente marina Saint-Thibault, a Igreja de Saint Guinefort e um viaduto bonito que leva a Sancerre. E eu não poderia deixar de seguir rumo a essa vila pitoresca no topo de uma colina.

Sancerre:  uma bela cidade medieval no topo de uma colina cercada por vinhas com vistas gloriosas, especialmente do histórico Caesar’s Gateway e da torre Tour des Fiefs, além do museu do vinho, adegas e lojas. Chegar até ela pedalando exigiu esforço, pois a subida até o topo não foi nada fácil.

Deixei a cidade  já com saudades. Descer a colina foi uma delícia. Segui tranquilamente até o próximo desvio : Belleville-sur-Loire uma aldeia agrícola com uma central nuclear situada nas margens do rio Loire. O tamanho da usina e sua imensa fumaça, branca como uma nuvens, é assustadora.

Briare

Um pouco antes do meu destino do dia  a última parada : Briare 

Sua famosa ponte sobre o canal foi projetada por Gustave Eiffel; sua marina animada e atraente. O vilarejo possui uma serie de museus: o Musée des Deux Marines e o Musée du Pont-Canal, dedicado às vias navegáveis; também o Musée des Émaux et de la Mosaïque. Além deles, a famosa Igreja de Saint-Étienne, e como não poderia faltar um castelo: o Château de Trousse-Barrière.

Depois de percorrer todas essas cidades, finalmente cheguei em Gien, destino do dia.

Gien uma cidade atraente na margem direita do Loire. Sua ponte de pedra do século XII, reconstruída de forma idêntica após o bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial, lhe confere um toque único.

É conhecida por muitas razões: por seu museu de caça, por sua fábrica de faiança e por seus vinhos de qualidade. O museu ocupa os espaços do Château de Gien, uma bela construção de estilo Renascentista em pedra e tijolo policromado. Fiz uma visita ao Museu de Caça e me surpreendi. Aprendi bastante sobre os cães e as técnicas de caça.

Explorar as ruelas da cidade foi um prazer, tanto que permaneci dois dias.

Château de Gien

dia :  Gien /Jardeau  (66,62km)

O dia amanheceu nublado com uma fina garoa. Segui pedalando através de uma região rural. As imensas plantações de alface roxa e verde davam um colorido especial ao lugar. Depois vieram as plantações de girassóis (já secos) e os campos de beterraba. O sol devagar foi aparecendo e conferindo uma luminosidade ao verde intenso da região. Soube depois que o Vale do Loire é a principal região agrícola da França.

A viagem avançou tranquila, o sol por um tempo me acompanhou seguindo ao extremo leste do trecho (considerado um Patrimônio Mundial da Unesco). Pedalei por trechos em florestas onde o silêncio era interrompido apenas pelo cantos dos pássaros.

 

 Sully-sur-Loire

Vários quilômetros depois alcancei Sully-sur-Loire:uma pequena cidade ribeirinha encantadora, com seu castelo com fosso medieval, sua igreja colegiada e a Igreja de Saint-Germain, que por muito tempo serviu aos marinheiros do Loire. Minha passagem pela cidade não demorou. Seu majestoso castelo estava fechado para visitação, assim como as igrejas.

Deixando o soberbo Château de Sully-sur-Loire para trás, continuei pedalando. Fiz um pequeno desvio para conhecer a magnífica Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire.

Saint-Benoît-sur-Loire está dentro do perímetro classificado como Patrimônio Mundial pela UNESCO. A cidade do Loire, que conta mais de 1.400 anos, está intimamente ligada à história de sua abadia, também chamada de Abadia de Fleury. Lindíssima! Ao visitá-la tive o privilégio de encontrar um senhor afiando o órgão e após fazê-lo, tocou uma música que provocou em mim uma grande emoção. Entenderam por que eu entro em todas as portas abertas? Muitas vezes você é surpreendido com experiências únicas.

Château de Sully-sur-Loire

Château de Sully-sur-Loire

Deixando o soberbo Château de Sully-sur-Loire para trás, continuei pedalando. O sol novamente deu lugar a nuvens escuras anunciando chuvas.  E não demorou muito para cair. Avancei pedalando embaixo de chuva forte até a primeira cidade do trajeto – Jargeau, busquei por hotéis e não encontrei vagas. Um morador me indicou o Camping Isle Aux Moulins próximo da cidade no caminho da rota. Segui até lá e adorei o lugar. Me hospedei e apreciei o local cheio de árvores, tomando um bom vinho local.

Camping Isle Aux Moulins

dia : Jardeau/ Orléans (29,51km)

Novamente o dia amanheceu chuvoso. Mas, decidiu seguir pedalando apesar dela. A próxima cidade do percurso: Orléans estava há apenas a 20 quilômetros. Fiz uma reserva no Auberge De Jeunesse Orleans  uma rede de hospedagem global e muito econômica. A chuva me acompanhou insistentemente até chegar ao Auberge .

Já estava rendida ao dia chuvoso, quando por volta do meio-dia a chuva se foi e o sol apareceu majestoso. Tive a tarde toda para percorrer todos os cantos da cidade, seguindo por ruas charmosas.

Bem no centro, fica uma estátua equestre de Joana d’Arc, esculpida em bronze por Denis Foyatier, um escultor Francês do século XVII. Joanna d’Arc é uma importante personalidade na história dessa cidade; sob seu comando, Orléans foi conquistada durante a Guerra dos Cem Anos. É possível encontrar referências a ela por todos os lados.

Uma visita imperdível é a famosa Catedral de Orléans, a Cathédrale Saint-Croix, que é seu nome oficial. Dominando o horizonte da cidade a partir do topo de suas torres, a catedral gótica, construída entre os séculos XIII XIX, contém bela talha de madeira e janelas com vitrais que retratam o épico de Joana d’Arc.

Perto da catedral fica o Hotel Groslot (monumento histórico), um magnífico edifício renascentista que remonta ao século XVI.  Ele já teve várias vidas e hoje, além de ser visitado, pode ser alugado para cerimônias. É um excelente local para visitar e entender um pouco melhor a história da cidade.

Hôtel Groslot

Caminhando pelas inúmeras ruelinhas  fui encontrando casas com fachadas medievais que se espalham entre a catedral e o rio Loire, e a famosa Ponte Georges V, que cruza o rio e oferece belas vistas da cidade.

A Casa de Joana d’Arc

Nessa casa, em estilo enxaimel, datada de 1960, casa de Jacques Boucher, Joana d’Arc ficou hospedada durante o cerco a Orléans, de 29 de abril a 9 de maio de 1429. Hoje é um modesto museu, onde uma apresentação multimídia conta um pouco da história da heroína e de seu tempo na cidade.

Foi uma tarde agradável e bem produtiva. Só lamentei não conseguir tempo para percorrer os corredores do Museu de Belas Artes.

 5º dia: Orléans/ Beaugency (48,63KM)

O dia amanheceu lindo, um sol agradável e uma temperatura amena. Perfeito!

Deixei os subúrbios de Orléans para trás, e logo cheguei na confluência dos rios Loiret e Loire.  Esta etapa do Loire à Vélo corre em parte ao lado do Loire. O ambiente com a luz da manhã e as águas calmas é simplesmente mágico. Parei algumas vezes para contemplar.

Segui pedalando e logo encontrei generosa natureza em uma paisagem arborizada ao longo do percurso. Avancei rumo a Beaugency, mas antes fiz uma parada em Meung-sur-Loire, uma pequena cidade histórica, com seu castelo, seu museu e sua igreja.

O meu tempo em Meung-sur-Loire foi rápido, tempo de fazer um almoço. Escolhi um restaurante charmoso em frente ao castelo. Optei por apreciá-lo dali, não conheci seu interior. Mas conheci sua igreja e, infelizmente, o museu estava fechado.

Logo cheguei à bonita vila de Beaugency, com belas ruas históricas e grandes monumentos, incluindo a importante Abadia de Notre-Dame e o Château Dunois, além de uma impressionante ponte medieval sobre o Rio Loire.

Entre a torre Firmin e a torre César, optei por sentar-me na pequena praça ao lado de Joana d’Arc para apreciar a tranquilidade do lugar. O tempo estava muito bonito, havia poucas pessoas caminhando pela cidade. 

Um dos vários canais que cortam a cidade medieval

 6ºdia :  Beaugency  / Blois (58,33KM)

Deixei a pequena Beaugency e segui pedalando. O contraste entre as antigas vilas pitorescas do lado do Loire e a Central Nuclear em Saint-Laurent-des-Eaux mostra como o Loire foi importante para tantas atividades humanas, passadas e presentes.

Avancei através de uma linda ciclovia que passa ao lado do rio de Tavers a Avaray.  O trajeto fácil e plano me leva a região de Pays des Châteaux, cobrindo as terras ao redor de Chambord e Blois, ostentando muitos castelos famosos.

Para chegar em Blois há três rotas possíveis. O próprio Loire à Vélo oferece o caminho mais direto, mas os circuitos alternativos e sinuosos permitem que você procure grandes castelos espalhados por essas paisagens únicas.

Eu optei em seguir pela Via Chambord para conhecer o Château de Chambord — o maior castelo do Loire e o que melhor sintetiza os conceitos de castelo e de palácio num único prédio. O percurso segue bucólico passando por florestas e pequenas estradas vicinais. É notável o quão bem-feita é a rota. Ela não nos leva apenas por uma aldeia, consegue providenciar acesso facilitado à vários lugares pitorescos.

Percorrendo a floresta

Antes de chegar ao Château de Chambord percorri um trecho na floresta de propriedade do Chambord. A quantidade de carvalhos, pinheiros, charnecas, samambaias e uma infinidade de espécies de plantas espontâneas impressionam. Pedalar por lá foi revigorante.

Algumas pedaladas mais e me deparei com um grandioso castelo que me impressionou de forma soberba.  Sentei-me à sua frente para contemplar e absorver a sua beleza arrogante. Que esplendor! De frente para o majestoso castelo minha imaginação fluía. Conseguia ouvir os latidos dos cães nas épocas de temporada de caça do rei e de sua corte.

Erguido para satisfazer os caprichos do Rei Francisco I, tinha ao mesmo tempo uma arquitetura renascentista do século XVI e uma localização privilegiada para a caça, uma das paixões do monarca.

Cheguei ao castelo disposta a explorá-lo o máximo. Visitei seu interior com calma, assisti a um torneio de cavalaria, acrobacias e treinamento de aves de rapina. A apresentação ocorre sob arquibancadas protegidas. Foi interessante e prazeroso (custo de € 12,00).

É possível caminhar pelos entornos do Château de Chambord, observando toda a sua grandiosidade pelo lado de fora e ficar maravilhado com o tamanho da construção e com as belas torres que são a sua marca registrada, sem custo. Caso queira fazer a visita de forma autoguiada, com a ajuda dos folhetos fornecidos na bilheteria (em diversos idiomas, inclusive em português) o custo é de € 14,00 (vale a pena).

Explorando o Castelo  

 São 60 quartos abertos para visitação,que  oferecem acesso à uma coleção de 4.500 objetos de arte. Estupendo!

Um jardim de tirar o fôlego.

Um espetáculo equestre

E ainda  tive o privilegio de contemplar uma bela exposição contemporânea da artista francesa  Lydie Arickx ,   uma das grandes figuras do expressionismo francês. Poderoso, livre, multiforme, seu trabalho Arborescences questiona a vida em todas as suas formas. 

Passar horas no castelo foi incrível. Deixei o lugar e segui rumo à Blois, destino do dia. O percurso agora segue através de grandes plantações de uva e neste trecho encontrei algumas subidas. Mas a beleza das parreiras de uva repletas me fez esquecer delas rapidamente.  

Cheguei em Blois já era fim da tarde. Logo na chegada a cidade revela seu esplendor e imediatamente me apaixonei por ela. Tanto que naquele momento decidi ficar dois dias por lá.

Antes de seguir para o Albergue que havia reservado passei pelo Castelo, como era tarde a visita ficou para o dia seguinte.

No dia seguinte

 No dia seguinte resolvi me mudar para um hotel mais próximo do centro. O albergue onde estava era muito longe. Acomodada próximo ao castelo foi fácil percorrer a cidade caminhando. O castelo real, as casas da cidade antiga e os monumentos religiosos de Blois formam um belo conjunto harmonioso. Não o explorar seria um desperdício.

 Explorando o Castelo de Blois    

O Castelo de Blois constitui um mosaico de vários estilos. Além de ter sido residência de vários reis, foi também o local onde Joana d’Arc foi condecorada pelo Arcebispo de Reims, antes de partir com o seu batalhão para combater os ingleses em Orléans.

O interior do Castelo

Ao longo da visita aos aposentos reais da ala Francisco I, a história da França vai se delineando aos meus olhos: o assassinato do Duque de Guise, o Studiolo de Francisco I, o quarto de Catarina de Médici… Uma riqueza de detalhes que realmente impressiona.

A exposição 

Um toque de humor e pop art em Blois! O Castelo Real de Blois acolhe Made in Japan – La Grande Odalisque, uma peça icônica na história da arte de Martial Raysse. 

A visita à Blois continua através das pitorescas ruas estreitas do centro histórico, cheias de charme e propícias para caminhar. Visitei a Catedral de Saint-Louis. A partir da vasta esplanada do Hôtel de Ville, pude ver os jardins do Bispado, bem como os telhados de ardósia da cidade velha e do rio.


7º dia:   Blois/ Cheverny/  Chaumont-sur-Loire  (77,52KM)

Blois vista do outro lado do rio

Na manhã seguinte deixei a cidade de Blois. Quando saí, o dia estava ensolarado e uma brisa soprava. Segui pedalando ao longo da margem sul do Loire. No caminho notei uma placa indicativa para o castelo de Cheverny e decidi fazer o desvio. Sabendo que essa decisão aumentaria o trajeto em 50 km (considerando ida e volta).

Chegando, deixei minha bicicleta amarrada na frente do castelo com meus alforjes (exceto o alforje da frente, é claro) e nada foi roubado. Você pode ir para lá sem se preocupar.

O Castelo Cheverny foi inspiração para Hergé ambientar as aventuras do jovem repórter Tintin.

Diz a história que o cartunista belga teria estado no local e se inspirado nessa construção para a criação do Château de Moulinsart, propriedade fictícia de um antepassado do Capitão Haddock, parceiro de Tintin.

E lá estão algumas referências das histórias dos quadrinhos, como a fachada de pedra e bustos romanos, que nos desenhos aparecem em versão reduzida, e a escadaria onde o atrapalhado e mal-humorado Haddock costumava tropeçar.

Decidi visitar o interior do castelo e seus jardins. O parque do castelo é de rara beleza e nele estão plantadas árvores extraordinárias, entre as quais tίlias, sequoias gigantes e cedros de diversas variedades.

Deixei o lugar sem arrependimentos. O desvio valeu a pena. Avancei pedalando de volta para a Rota do Loire. No caminho o céu foi tomado por nuvens escuras e carregadas, anunciando chuvas.  Acelerei na esperança de encontrar algum vilarejo antes dela desabar. Mas foi inútil. Uma chuva forte me acompanhou por uma hora e meia. Cheguei em Chaumont-sur-Loire encharcada, apesar da capa impermeável. Exausta, parei no primeiro hotel que encontrei (nem me lembro o nome).

8º Dia: Chaumont-sur-Loire / Amboise (25,87 km)

Para compensar o dia anterior, optei por um pedal curto e segui apenas até Amboise. O dia amanheceu nublado. Segui pedalando ao longo de estradas rurais tranquilas, exceto por algumas pequenas encostas. Houve um trecho em que a rota me levou por uma estrada – a D751 – com algumas curvas acentuadas, descendo para a cidade de Amboise.

Cheguei na cidade pela parte alta e de lá é fácil perceber a característica bélica da cidade, e que parece que parou no tempo medieval. A vista da pequena cidade do alto é maravilhosa. É nessa parte da cidade que está o Castelo Clos Lucé, lugar onde Leonardo da Vinci passou os últimos anos de sua vida. Ali fiz minha primeira parada.

O interior do castelo

No interior do castelo é possível visitar ambientes que recriam espaços frequentados por Leonardo da Vinci, como o quarto onde morreu sobre a cama de dossel renascentista. Porém, o destaque mesmo é a reconstrução do ateliê em que criou suas obras. Dali saiu não só o quadro São João Batista, concluído durante sua estadia no Clos Lucé, como também o inacabado A Virgem e o Menino com Santa Ana.

Após explorar o interior do castelo, visitei o parque ao redor com seus jardins e reproduções de obras que mostram a fascinação de Leonardo pela natureza.

Dali, segui para o charmoso centrinho da cidade. Parei num hotel em uma construção típica e me encantei com o lugar. Decidi me hospedar ali por dois dias e explorar a cidade com calma. O dia continuava nublado e uma chuva fina caía. Optei por aproveitar o restante da tarde para descansar.

 

No dia seguinte, a chuva deu uma trégua e resolvi sair para caminhar. Percorrer as ruas do lugar, observando o comércio e as casinhas de arquitetura antiga, foi um prazer.  Aproveitei também para visitar o imponente Château Royal d’Amboise, transformado de castelo medieval em renascentista nos séculos XV e XVI por Carlos VIII, Luís XII e por Francisco I. Foram dois dias bastante agradáveis.

Château Royal d’Amboise

9º Dia: Amboise / Tours: (29,5 km)

Na manhã seguinte deixei a cidade embaixo de uma garoa fina e tempo nublado. A temperatura havia caído um pouco. Essa etapa foi fácil e curta. No caminho fiz uma breve parada em Montlouis-sur-Loire, mais uma cidade medieval com seu porto histórico. Na região estão espalhadas prestigiosas adegas de vinho e seus vinhos são famosos. Parei em um supermercado e procurei pela marca. Comprei um vinho branco e alguns queijos e fiz um pequeno piquenique ao lado do rio.

O percurso até Tours foi tranquilo; a cidade, um pouco maior que as anteriores, exigiu atenção à sinalização. Havia feito reserva em um hostel, localizado em uma das avenidas principais, então segui direto até ele e me acomodei.

Tours é a grande capital do Vale do Loire, um patrimônio mundial da UNESCO, mas é muito mais do que apenas uma porta de entrada para o Loire Château. De fato, Tours é muito charmosa. Suas ruas de paralelepípedos, as casas francesas em estilo enxaimel e a fachada de pedra da monumental Catedral de Saint-Gatien dão à cidade um ar medieval encantador. Fiquei maravilhada e decidi permanecer por ali dois dias e desfrutar do lugar.

10º Dia: Tours / Villandry (48 km)

Na manhã seguinte, antes de seguir viagem, decidi explorar a cidade, desta vez os lugares mais afastados do centro histórico e não visitados por turistas. A intenção era observar mais o dia a dia dos moradores. Foi divertido pedalar por bairros residenciais observando a arquitetura das casas, as pessoas cuidando dos seus jardins e entrar em pequenos mercadinhos e padarias.

A cidade de Tours é cruzada por muitas ciclovias marcadas. É preciso muita atenção ao longo da avenida principal de Grammont, pois ela tem muitos cruzamentos. Foi em um desses cruzamentos que eu errei o caminho. Só notei quando cheguei à pequena cidade de Joué-lès-Tours – distante 6 km. Achei estranho e resolvi checar meu mapa. Sim, havia errado o caminho.

Retornei à estrada, agora mais atenta. De volta ao percurso correto, segui por estradas rurais tranquilas e vias verdes até a confluência do Rio Cher com o Rio Loire.

No caminho fiz uma parada em Savonnières: uma encantadora vila de marinheiros. O vilarejo é listado como paisagem cultural do Patrimônio Mundial. Notável pela qualidade do seu estilo arquitetônico, testemunha as interações entre as pessoas e o rio ao longo de dois mil anos de história. Um lugar muito agradável, tanto que resolvi almoçar por lá e escolhi o “Soupette de Mémère”, uma pequena taberna localizada à beira do rio e que oferece pratos com sabores locais. Tudo muito bom, mas precisava seguir pedalando e chegar ao destino do dia: Villandry.

Villandry

É mais uma charmosa vila histórica com seu belo castelo renascentista – o Château de Villandry –, mundialmente famoso por seus excepcionais jardins. Havia lido a respeito dos jardins onde as beterrabas  e as saladas têm papel fundamental na decoração. Curiosa, segui direto para o castelo afim de visitar seus famosos jardins. 

Após percorrê-lo calmamente e me deslumbrar com o conjunto paisagístico formado por complexos desenhos em que as plantas moldam diferentes labirintos, deixei o castelo e segui em busca de hospedagem. Depois de um dia cheio, me acomodei e caí no sono.

11º Dia: Villandry / Chinon (58,58 km)

Ao longo de La Loire à Vélo, o pedal segue tranquilo, o cenário se repete – estradas tranquilas e muito verde. Desta vez a estradinha em direção à Rigny-Ussé me levou diretamente ao seu castelo. A vista dele da estrada impressiona e é  um convite para entrar e aprecia-lo.  O castelo foi construído em 1642 e dizem que foi a inspiração do conto “A Bela Adormecida”, por isso ele é conhecido como o “Château de la Belle au Bois Dormant” .

Castelo de Rigny Ussé

Castelo de Rigny Ussé

No interior do castelo, sonho e realidade se misturam . Em cada aposento há personagens com roupas da época.

Seus magníficos jardins simétricos, desenhado por Le Nôtre (criador dos jardins de Versailles), são ricamente floridos e estão entre os mais belos da região.

Depois da visita segui pedalando. O percurso segue ao longo da estrada D16, partilhando assim o caminho com o tráfego motorizado, embora seja leve. Até chegar na cidade de Langeais, onde fiz uma rápida parada.

Saumur

Meu objetivo do dia era chegar em Saumur, mas uma estrada interrompida e um pneu furado me fizeram mudar de planos. Fiz um desvio – por uma estradinha montanhosa e com muitos vinhedos –, que me levou diretamente à pequena cidade de Chinon.

Ao chegar me apaixonei pela vila medieval. Novamente, paralelepípedos e casas de pedra povoam as vielas repletas de história. Sem esquecer o toque delicado das rosas trepadeiras, que os seus donos podam com esmero. Um encanto. Decidi fazer uma parada de dois dias ali e explorar cada cantinho.

 

O Castelo de Chinon

Ao passear pelas ruas medievais da pequena vila descobri uma adega a :  “Caves Plouzeau”. Escavadas a partir do século X para extrair as pedras da fortaleza real de Chinon por meio de poços de extração, agora são particularmente adequadas para a maturação de vinhos.

12º Dia: Chinon / Saumur (49,52 Km)

Na manhã deixei a histórica cidade já com saudades. 

Segui pedalando pelo condado de Anjou, uma região belíssima alternando vinhedos e paisagens subterrâneas (ou trogloditas). Nesse trecho é possível seguir nas vias verdes perto do Rio Loire ou por uma rota mais alta e mais exigente em pequenas estradas rurais, através de encostas cobertas de vinhas. Eu optei pelas estradas rurais e por apreciar os grandes vinhedos.

No caminho, mais uma pequena aldeia repleta de histórias e mais uma parada. Eu decididamente tenho uma grande fraqueza por essas aldeias, não consigo passar por uma sem me encantar. Muito próxima dali está a Abadia Real de Fontevraud, um conjunto religioso excepcionalmente extenso e bem preservado. Valeu a pena a visita.

Depois foi a vez de fazer uma paradinha em Turquant, uma aldeia que surpreende por sua rede troglodita, uma das mais importantes da França. A aldeia está cheia delas! Encontrei um Bistroglo, restaurante de estilo troglodita, além de uma grande quantidade de lojas e vinícolas artesanais!

De Turquant segui direto para Saumur e a rota escolhida fez com que eu chegasse diretamente no castelo de Saumur. Sim, mais um castelo. Como ainda era cedo resolvi deixar minha bicicleta amarrada em frente e entrei para visitá-lo.

Depois de passar por tantos vinhedos, decidi parar em um barzinho nas ruas pedonais e históricas de Saumur e apreciar uma bela taça de vinho local para acompanhar um delicioso Croque monsieur, um sanduiche francês delicioso. Depois disso tudo, foi só encontrar uma hospedagem e descansar.

13º Dia: Saumur / Angers (68,1 km)

Deixei Saumur logo cedo. O dia estava ensolarado e a temperatura muito agradável, prometendo um dia lindo.  A oeste de Saumur, a rota serpenteia pela cidade vizinha de Saint-Hilaire-Saint-Florent, seguindo principalmente por estradas compartilhadas com o tráfego motorizado, mas também por trechos curtos em vias verdes.

Entre Saumur e Gennes (distantes 15 km), segui cruzando trechos arborizados aqui e ali. Até chegar a um enorme lago cercado de muito verde: o lago Joreau. Fiz uma parada para apreciá-lo.

Entre Gennes e Saint-Rim-la-Varenne, passei pelo Le Thoureil. Pedalando ao longo do rio de um lado e pelas casas com vista direta para o Loire do outro. Uma coisa que me surpreendeu ao longo do dia foi o quanto a rota tendia a serpentear para o interior e para longe do rio. Passei por áreas agrícolas e aldeias, parando as vezes para contemplar, aproveitando o dia de sol.

A chegada em Angers foi tranquila, mas o movimento de gente e de carros nas ruas era intenso. Angers é uma cidade histórica notável, com uma grande vida cultural, ligada em parte às suas universidades e teatros; impressionantes edifícios religiosos medievais; um castelo excepcional, lar de uma grande obra medieval, as Tapeçarias do Apocalipse; o esplêndido Hospital Saint-Jean; muitos museus excelentes, incluindo o rico Museu de Belas Artes; e novos bairros empolgantes perto do rio Maine. Para apreciar tudo o que a cidade tem para oferecer o ideal é uma parada de pelo menos três dias.

Mas eu decidi aproveitar apenas minha visita ao castelo e à igreja. Depois percorri de bicicleta o centro histórico e segui para o Lac de Maine para aproveitar o dia lindo de sol ameno . Dali segui direto para o hotel que havia reservado em uma área excepcionalmente bela e tranquila.

14º Dia: Angers / Oudon (87, 45 km)

A manhã seguinte começou sob forte nevoeiro. Esperei algumas horas e segui ainda com o dia nublado e com a neblina agora leve. Avancei pedalando através de um parque e ao longo do Rio Maine.

Logo cheguei à Bouchemaine, na confluência dos rios Maine e Loire. Uma das vistas mais espetaculares do rio no Vale do Loire; elegantes casas de cais; o antigo bairro de pescadores e marinheiros de La Pointe, com pequenos restaurantes.

O dia que amanheceu nublado deu lugar ao sol e logo o lugar ficou bastante movimentado de ciclistas, gente caminhando e correndo. Fiz uma parada e me sentei em um dos muitos bancos espalhados pelo parque para observar o vaivém das pessoas, mas logo avancei por uma trilha ao longo da ferrovia ao lado do Loire até a aldeia de Savennières. Este é um trecho muito bonito, selvagem, sem declives.

Em Savennières visitei a igreja, e segui por estradas e trilhas tranquilas até La Possonnière. Em seguida a rota segue pela estrada D210 até as pontes na estrada D961. Essas pontes têm ciclovias que permitem atravessá-las facilmente para o lado sul do Loire em Chalonnes-sur-Loire.

Chalonnes-sur-Loire

Fiz uma parada em Chalonnes-sur-Loire para um café em uma cafeteria agradável com cadeiras ao ar livre. E foi nesse momento que algo incrível aconteceu – estacionei minha bicicleta perto de onde ia me sentar. Notei uma mesa ao lado com uma família – os pais e três crianças (6 a 8 anos). Uma das meninas me encarava, então retribui com um sorriso. Ela se levantou, foi até a minha mesa e me perguntou se podia cantar para mim. Disse que sim, e ela cantou uma canção infantil que me emocionou.  Depois a mãe veio conversar comigo e quando disse que era brasileira, as crianças se juntaram e – acreditem se quiserem – cantaram a malfadada música  Ai Se Eu Te Pego, do  Michel Teló. Foi mágico.

Deixei Chalonnes-sur-Loire ainda emocionada com as crianças. Dali segui rumo à Montjean-sur-Loire, onde deixei minha bicicleta e fiz uma trilha até chegar ao topo da vila para admirar o glorioso panorama do vale do Loire.

Nessa etapa do Loire à Vélo – em Anjou – atravessei a surpreendente ilha de Chalonnes, uma das maiores do Loire, habitada pelo homem desde os tempos pré-históricos. Perto dali, ao longo da margem sul, estão os famosos vinhedos de Coteaux du Layon e, em seguida, as bonitas aldeias empoleiradas de Montjean-sur-Loire e Saint-Florent-le-Vieil. O percurso foi feito por estradas tranquilas.

A viagem continuou por adoráveis trilhas e vias verdes. O dia agradável fez com que eu não notasse o quanto já havia pedalado nem percebesse as horas passadas. Já eram cinco da tarde e eu havia pedalado quase 90 km. Faltavam apenas 20 km para Nantes, mas decidi parar em Oudon e descansar.

Oudon

Dentro da cidade de Oudon, casas de vários personagens históricos ainda são preservadas, como Pilardière, o Greffin, o Buron, o Tertre que pertencia à irmã de Jules Verne, ou Omblepied, uma vila neoclássica classificada como monumento histórico. Percorrer suas ruas tentando descobrir as casas dos famosos, foi divertido.

O castelo medieval de Oudon

Impossível perder a torre do castelo medieval de Oudon, é o marco da paisagem nos arredores. Datado do século XIV, foi alterado para dar uma arquitetura impressionante vigiando o Loire. O castelo encontra-se muito bem restaurado. Vale a pena a visita.

15º Dia: Oudon / Nantes (37,48 km)

Na manhã seguinte deixei Oudon com destino à Nantes. O dia amanheceu ensolarado e com uma brisa deliciosa. Segui pedalando por belíssimas vias verdes. Alguns quilômetros depois é possível visitar o Château de Clermont. Mas eu já havia encerrado minhas visitas a castelos e segui direto até Mauves-sur-Loire, mais uma encantadora vila.

A importância do Atlântico começa a ser sentida nesta etapa do Loire à Vélo, à medida que o oceano começa a exercer mais influência. As ilhas do Loire, encostas cobertas de vinhas e campos planos e muito férteis de jardinagem no caminho para Nantes, oferecem paisagens agradavelmente variadas. Esta etapa do Loire à Vélo é interessante e fácil. A rota segue alternando entre estradas e trilhas tranquilas, com alguns trechos adoráveis em vias verdes.

Chegando a Nantes

A chegada a Nantes não é terrível (como acontece com todas as grandes cidades). Mas, o barulho foi o suficiente para perturbar todos os meus sentidos. Pedestres, ônibus, bicicletas, carros, vida borbulhante, os cheiros da cidade… enfim. Cada vez que passo um tempo na natureza e na tranquilidade, o retorno à cidade exige alguns momentos de aclimatação.

Logo que cheguei, segui direto para a Oficina de turismo em busca de hospedagem e de informações. A minha intenção era ficar três dias ali, havia combinado com minha irmã de nos encontrarmos e passarmos uns dias juntas.

Com a hospedagem reservada, segui para explorar um pouco a cidade, enquanto esperava o horário de chegada do trem em que minha irmã estava.

No fim da tarde nos encontramos e seguimos para o hotel. Colocamos a conversa em dia e aproveitamos para descansar. Nos dias seguintes exploramos a cidade, com uma infinidade de pontos turísticos a serem descobertos, incluindo: Les Machines de l’Île (máquinas extraordinárias em que você pode andar); o Château des Ducs de Bretagne, que abriga um museu notável; e as surpreendentes grandes obras de arte contemporânea da iniciativa Estuaire, espalhadas ao longo do rio.

Explorando Nantes

O Château des Ducs de Bretagne é o monumento histórico mais importante de Nantes e uma de suas principais atrações turísticas. Localizado no coração histórico da cidade, esta fortaleza é dotada de uma muralha do século XV e de vários edifícios construídos do século XIV ao século XVIII.

Château des Ducs de Bretagne

Logo em frente ao Château des Ducs de Bretagne está a torre Lu (tour Lu). Como o próprio nome sugere, fazia parte da antiga fábrica que produzia os famosos biscoitos Nantes, o “BN” (Biscuit Nantais).

Torre Lu

A torre é realmente fotogênica com suas cores dourada e azul, bem como sua cúpula perfurada com janelas. No interior, no rés-do-chão, encontra-se uma pequena sala que retrata a história da fábrica de Lu.

Catedral de St. Pierre e St. Paul,

A construção da catedral durou mais de 500 anos. Mais ou menos do tamanho de Notre-Dame de Paris, sua fachada de pedra branca é cercada por duas enormes torres, com terraços com vista para a cidade no topo.

De Nantes até o fim da rota – Saint-Brevin-les-Pins – faltavam três dias de viagem. Consegui convencer a minha irmã a seguir pedalando comigo. Providenciamos aluguel de bicicleta para ela e foi fantástico tê-la em minha companhia durante o restante do percurso.

16º Dia: Nantes / Le Pellerin (28,59 km)

Na manhã seguinte, aproveitamos a suavidade do sol e seguimos pedalando. Saindo de Nantes há a opção de seguir a rota tanto pelo lado esquerdo quanto pelo lado direito da margem do Loire.  Optei pela margem direita, o tráfego por ali é particularmente intenso, foi necessário muita atenção e cuidado. 

Mas não demorou e o percurso voltou à sua tranquilidade peculiar. Pedalamos por estreitas estradas tranquilas, no meio de paisagens típicas do estuário do Loire, com amplos pântanos e prados que se estendem desde o grande rio até chegar à pequena cidade de Indre. Ali foi necessário tomar um ferry (parte a cada 20 minutos e é gratuito) para atravessar o rio e chegar a Le Pellerin, uma cidadezinha pitoresca localizada às margens do Rio Loire. Logo na saída do ferry, na rua em frente ao rio, encontramos um hotelzinho simples e acolhedor. Optamos em ficar por ali e aproveitar o fim do dia descansando.

17º Dia: Le Pellerin / Paimboeuf / Saint-Brevin-les-Pins (49,58 km)

No dia seguinte, decidimos atravessar de ferry novamente para o outro lado do rio, para visitar a cidade de Couëron. É nela que está a obra do artista francês Jean-Luc Courcoult – A Casa do Lago – uma casa cujos alicerces capturados pela lama se inclinam levemente, venezianas fechadas, como um naufrágio desabitado. Foi criada em 2007 como parte da Bienal de Arte Contemporânea Estuaire.

A cidade fica apenas quatro quilômetros depois do local onde o ferry atraca. Avistamos a casa no lago, percorremos o lugar e voltamos ao ferry para atravessar o rio e seguir viagem.

De Le Pellerin seguimos para Saint-Brevin-les-Pins, a última etapa da ciclovia Loire à Vélo. A viagem continua por áreas verdes e estradas tranquilas, em meio à paisagens típicas do estuário do Loire, com amplos pântanos e prados que se estendem do grande rio. O calmo Canal de la Martinière serve de guia nesta etapa.

Le pont de Saint-Nazaire

O Loire é fortemente afetado pelas marés aqui e não demora chegamos no final da etapa, um típico balneário!

E uma grande serpente do mar nos recebe.  Trata-se da Ocean Serpent, uma obra do artista Huang Yong Ping. Uma escultura monumental em alumínio, com 130 m de comprimento no total. Ele representa o esqueleto de uma enorme serpente marinha imaginária, cujas vértebras ondulam até terminar em uma boca aberta.

Foi incrível chegar ali. Sentada na areia em frente à grande serpente fiquei a imaginar quão grande foi a minha viagem. Centenas de aldeias, várias cidades, muitos castelos e muita história para guardar na memória. Ao longo do caminho, paisagens mágicas: campos tranquilos, vinhedos sem fim, o Loire luminoso e outras habitações trogloditas.

918 km  depois chego em Saint-Brevin-les-Pins onde a Rota la Loire à Vélo termina. Mas nós decidimos seguir viagem pela rota Velo Ocean- assunto para o próximo post.