Contornando o Lago de Genebra – a Rota 46
Rota 46 – Tour Du Lemon
Viajar de bike pela Europa por três meses, com alforges e sem pressa foi uma decisão acertada. Poder decidir quando parar e quando seguir é sem duvida um privilegio.
Depois de pedalar pela França, decidi seguir para Suíça, considerada um paraíso pra quem quer fazer cicloviagem. Imagine um país minúsculo, cheio de paisagens lindas, montanhas nevadas, lagos e rios cor de turquesa, e tudo isso atravessado por um sistema gigante e organizado de ciclovias. As possibilidades são muitas, então eu precisava escolher uma.
E como foi que escolhi minha rota na Suíça?
Eu já havia visitada a Suíça anteriormente há muitos e muitos anos, de trem. Na época eu me lembro de ter parado em uma cidadezinha maravilhosa chamada Interlaken – o nome se deve ao fato de estar localizada entre dois lagos: o Lago Brienz, que tem uma linda coloração esmeralda e o lago Thun, com uma bonita coloração azulada. Eu fiquei deslumbrada com as cores dos lagos. Nunca vi nada igual. Então, prometi a mim mesma que um dia voltaria para revê-los ou conhecer outros.
Aproveitei a oportunidade e não tive duvidas : procurei por rotas que percorressem os arredores dos lagos da Suíça. O site que utilizei para pesquisa foi http://www.veloland.ch. , a bíblia dos ciclistas por lá. E não é à toa, navegando no site fui ficando enlouquecida com tantas possibilidades. Perfeito!!!!!
As rotas nacionais na Suíça
Na Suíça as rotas nacionais têm aproximadamente 400 quilômetros cada uma – são longas, mas estão divididas em várias seções de 20, 30 km cada. É possível fazer um ou dois ou três ou quatro pedaços da rota, e depois simplesmente parar, e sair de novo no outro dia. São todas numeradas e temáticas: a rota 9 te leva pra um circuito de lagos, a rota 8 faz você seguir o Rio Aare e assim por diante. Há rotas mais difíceis, com montanhas e trechos de terra, e há rotas mais tranquilas, planas e generosas.
O sistema de ciclovias é genial justamente porque não foi construído como uma alternativa às estradas – ele está dentro ou integrado a elas. Às vezes você pedala por uma ciclofaixa demarcada no asfalto, outras, por uma ciclovia separada e paralela.
Em qualquer dessas opções, o sistema de ciclovia foi feito aproveitando a malha viária suíça, com o objetivo de facilitar para aqueles que querem conhecer o país de bike.
Além disso, ao construir as milhares de rotas ciclísticas, pensaram também na sinalização, que é prefeita ; são indicadas as estradas que atravessam as paisagens mais bonitas, algumas onde não passa carro e que cortam a zona rural no meio do nada, ou ainda caminhos pavimentados minúsculos que seguem os rios nos vales entre as montanhas.
De Lion para Genebra
Como eu disse estava em Lion na França (havia terminado ali minha rota de bike pela Região de Aquitane). De trem até Genebra seria apenas duas horas a um custo de 25 euros (www.sncf.com). Então, segui para lá, pois havia encontrado uma rota chamada – Tour Du Lemon – nº 46, que contorna o Lago de Genebra. São 200 km de ciclovias marcadas que passa através de cinco regiões em dois países: Genebra, Pays de Gex, os cantões de Vaud e Valais, bem como o Chablais Haut-Savoyard , passa pela França e retorna a Genebra.
Na rota, há dezenas de pequenas cidades às margens do lago, todas lindinhas.O objetivo era explora-las sem pressa.
A Rota nº 46 Tour Du Lemon
A sinalização de rotas de ciclismo na Suíça é vermelho com o número em branco sobre um quadrado azul.
Enfim, uma rota interessante e perfeita por ser um circuito. Eu poderia alugar a bike ali e devolver no mesmo lugar, o que facilita a logística.
Como aluguei a bike
Finalmente com a rota escolhida , o próximo passo foi ver como alugaria a bike. Mas uma surpresa agradável, pois eu encontrei o site https://www.rentabike.ch/ muito fácil e pratico de usar. Foi só escolher a bicicleta, o lugar para retirar e para devolver, preencher formulários e pronto!!!! Então, só precisava chegar a Genebra e conferir se realmente estava tudo certo!
Conforme o planejado cheguei à cidade dois dias antes do dia programado. O local escolhido para retirada e devolução foi à estação de trem – Cornavin. A chegada antecipada foi premeditada, pois isso possibilitaria que eu explorasse a cidade e também conferisse na estação como seria o processo de retirada da bicicleta.
O local de entrega na Estação de trem é como um correio (você não vai encontrar uma loja de bike) No guichê você entrega o formulário recebido no ato da reserva e a pessoa lhe entrega à bicicleta. Não existe ali a possibilidade de escolha, nem alugar alforje, capacete ou outros equipamentos. Em todos os locais por onde eu já aluguei bike os alforges estavam incluídos, então nem pensei em perguntar. ERREI!!!!!!
Em suma : eu tive que improvisar; peguei o mínimo possível de vestimentas, o kit de primeiros socorros e kit ferramentas. O capacete, sempre levo o meu. O que restou guardei em um armário disponível ao lado desse guichê.
Um sistema também tranquilo de ser utilizado: ao colocar a bagagem no armário, é possível digitar a quantidade de dias que você pretende deixar a bagagem ; um ticket é gerado com um numero e deve ser guardado para a retirada. ( 6 Euros por 24horas e 4 Euros por dia adicional)
Aliás ,um fato interessante na retirada da bike é que junto com ela é entregue um manual com as regras dos ciclistas.
Onde me hospedaria durante o percurso?
Convenhamos: à Suíça é maravilhosa, tem lugares incríveis, mas os preços são absurdos para o bolso do simples brasileiro. Então procurei pelos Hostels – um tipo de hospedagem mais básica e econômico que um hotel. Mais uma vez, outra agradável surpresa: o site www.swisshostels.com
Por fim, tinha tudo o que facilitaria minha a busca por estadia.
O ponto de partida
Genebra
Estava hospedada no Geneva Hostel que fica na Rue Ferrier 2, bem pertinho da estação do trem.
Deixei a bagagem no Hostel e então retornei a estação para buscar informações sobre onde e como retiraria a bike. Tudo perfeito!!!!!! Após, saí pra explorar um pouco do que a cidade tinha a oferecer.
Explorando Genebra
Genebra é ótima para pedalar. As ciclovias são quase sempre compartilhadas com as ruas onde transitam os carros e consistem basicamente na marcação de uma faixa exclusiva no canto da pista. Ao contrário do que dizem muitos especialistas, é muito seguro pedalar nesse tipo de via, pelo menos nesta cidade.
Com tempo disponível, fui de bike visitar algumas das inúmeras sedes de instituições internacionais que existem ali, como a Cruz Vermelha e ONU Europa.
Museu da Cruz Vermelha e da Crescente Vermelha
A Cruz Vermelha é uma Organização conhecida por prestar assistência humanitária de saúde e direitos humanos às vítimas de guerras e de conflitos, incluindo os soldados e os próprios profissionais de saúde envolvidos. Infelizmente o local estava fechado e não foi possível visitar o interior do palácio.
Também conheci o centro antigo e segui pedalando pela orla do Lago de Genebra. Apesar do nome, esse lago é tão grande que pega outras cidades, como Lausanne e Montreux. Nesse lago, vi o Jet d’Eau (que significa jato d’agua), um dos cartões postais de Genebra; ele jorra 7 toneladas de água a 140 metros de altura, numa velocidade de 200 km/h.
Uma visita guiada ao prédio da ONU
A visita guiada dura cerca de uma hora e o acesso é feito pelo Pregny Gate of the Palais des Nations na Avenue de la Paix (rua à direita do prédio da ONU). O valor da entrada é de CHF 10 e é necessária a apresentação de documento de identidade.
Os horários dos tours variam de acordo com os meses do ano. De setembro a março, podem ser feitos de segunda a sexta, às 10:30am, meio-dia, 2:30pm e 4pm. Nos meses de abril a junho, podem ser feitos diariamente (inclusive aos finais de semana), nos mesmos horários acima. Em julho e agosto, os tours também são diários e o último horário de saída é às 5pm. Essas informações foram obtidas no site da ONU e convém checá-las, pois podem ser alteradas. A propósito, agora no final de ano e no começo de 2020, não haverá visitas (de 16 de dezembro a 9 de janeiro).
O tour guiado é interessantíssimo!
O Palais des Nations é quase um museu, pois diversas obras de arte, artesanato e mobiliários foram cedidos pelos países membros da ONU para compor a decoração.
A Salle des Pas Perdus tem proporções impressionantes. São 56 metros de comprimento, 9 metros de largura e 11 metros de altura. Foi concebida como o saguão principal do Palácio, entre a Assembleia Municipal e a fachada principal. Sua grandiosidade me fez lembrar os corredores do Palácio de Versalhes.
Em frente a Sede da Nações Unidas (ONU),
Há um monumento inusitado que é bem representativo a Broken Chair – uma cadeira enorme com 3 pernas íntegras e 1 quebrada. Foi criada pelo artista suíço Daniel Besset em 1997 e era para estar na praça por apenas 3 meses. Mas acabou ficando (chegou a ser removida em 2005, mas voltou de vez em 2007).
Ela é o símbolo de um protesto contra as minas terrestres utilizadas nas guerras, que já fez muito inocente perder uma perna (e até a vida) ao pisar nelas acidentalmente.
Ao lado do Palácio – o Parc des Nations – há uma agradável área verde, com várias esculturas espalhadas por ele, vale a pena explora-lo.
Dois dias em Genebra foram suficientes para conhecer um pouco da cidade.
Dois dias em Genebra foram suficientes para conhecer um pouco da cidade.
Depois de explorar genebra, iniciei a Rota 46 – Tour Du Lemon
1º dia de pedal – GENEBRA A NYLON 30,31 km
Logo depois do café da manhã saí e bastou seguir as placas. Não tive nenhum problema, pois o trecho todo é pavimentado e sem dificuldades. O percurso é curto, então, percorrê-lo lentamente, parando e entrando aos acessos ao lago é uma boa alternativa para aproveitar ao máximo. E ainda há tempo para explorar a cidade programada para o final do percurso: Nyon, que fica na beira do lago e possui 20 mil habitantes. Acumulou nos seus 1600 anos muitas histórias e, ainda hoje, conserva ruínas romanas e castelo medieval.
Hospedagem em Nylon – Hostal Nylon
2º dia na Rota 46 : NYLON A LAUSANNE – 39,7 km
Após deixar a pequena cidade de Nylon e pedalar em torno de 23 km, encontrei mais um pequeno vilarejo : Saint Prex. Um lugar encantador, a área medieval da cidade, é extremamente bem conservada e charmosa. Pedalar sem pressa por lá, curtir as pequenas ruazinhas e se deliciar com a vista do lago foi fantástico.
O pedal nessa etapa termina em Lausanne – Capital Olímpica, a quinta maior cidade do país e, para nós brasileiros, pequena e charmosa. Visitar o Museu Olímpico, caminhar por Ouchy, desfrutando dos canteiros floridos do lago, explorar as ruas de pedestres do centro antigo e fazer um piquenique nos jardins do museu Hermitage foi uma delícia.
Na cidade fiquei hospedada no Lausanne Gusthouse&Backpaper .
3º dia : Lausanne a Montreux 33,1 km
Antes de chegar em Montreux, optei por uma uma parada (obrigatória!) em Lavaux , região cheia de propriedades muito pequenas, geralmente familiares, que cultivam a uva, Chasselas e produzem um vinho branco simplesmente delicioso. Os vinhedos milenares foram tombados pela UNESCO. Pedalar pelas ruas de pedras que cortam os vinhedos, passando por cidades pequenas é simplesmente o paraíso! A vista é deslumbrante.
Uma outra cidade, que valeu explorar no percurso foi Vevey –
a cidade onde nasceu a Nestlé em 1867. Nela há um Museu da Alimentação, fundado pela Nestlé e que conta a saga da empresa, além de apresentar vários aspectos da nutrição humana de maneira interativa. Um pouco mais à frente do museu, no Lago, existe uma escultura de um garfo de aço que acabou se tornando um dos símbolos da cidade; era parte de uma exposição temporária, mas os moradores decidiram ,por meio de um abaixo assinado, solicitar que o garfo ficasse para sempre ali.
A cidade é também conhecida pelas incríveis paisagens alpinas que encantaram e continuam encantando.
Charlie Chaplin é um dos exemplos de apaixonados por Vevey, já que a escolheu para passar os últimos 25 anos de sua vida, de 1952 a 1977. O local também recebeu outros grandes nomes como Fyodor Dostoevsky.
A última paradada Rota 46 do lado suíço é Montreux, conhecida pelo famoso Montreal Internacional Jazz Festival. Freddie Mercury, vocalista da banda britânica Queen, residiu na cidade após descobrir que estava com aids, compondo para ela a música “A Winter’s Tale”. Na Place du Marché, às margens do Lago Genebra, foi erguida em 1996 uma estátua em sua homenagem.
Mas a cidade em si já vale a parada. A principal atração é o Castelo de Chillon, construído numa ilhota do lago.
Em Montreux fiquei hospedada Auberge de Jeunesse ( conhecido nosso com Albergue da Juventude ).
4º Montreux a Evian – 38,5 Km
Saindo de Montreux, ainda pedalando no lado Suíço do Lago, parei nos vilarejos de Villenuve e Saint Gingolp, para depois chegar a primeira cidade do lado Francês – Évian.
No lado Francês a sinalização da Rota 46 muda – os sinais da Rota de bicicleta verde e branca são usados com Tour du Léman em um quadrado azul
A fonte da Évian, a segunda água mais vendida no mundo, fica ali. Conhecida como Source Cachat, em homenagem ao proprietário da fonte que em 1790 começou a comercialização da água, a fonte pode ser visitada e fica dentro do Espace Évian, um lindo prédio em estilo Art Nouveau.
A água mineral Evian é reconhecida mundialmente como sinônimo de pureza e sofisticação. Claro que eu não ia deixar de encher minha garrafa direto na fonte…
Em Evian fiquei hospedada no Hotel Du Palais
5º Evian /Genebra
Deixei enfim a cidade de Évian, sentindo por ser esse o último dia da Rota 46 – Tour Du Lemon. Mas segui e um dos objetivos antes do destino final era conhecer uma aldeia medieval francesa fortificada, a Yvoire. Havia lido que ela está classificada entre as mais belas aldeias de França. Então a parada ali era para mim obrigatória!
E realmente a aldeia encanta. Um cenário que parece ser feito para um filme. E possível percorrê-la em duas horas, no máximo. Mas o dia lindo, as lojinhas charmosas e as flores fizeram com que o meu tempo por lá fosse mais.
Enfim foi só seguir sem dificuldades até Genebra – de volta ao ponto de partida!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Uma rota curta em quilometragem – pedalei 186 km, porém as paisagens e as pequenas vilas charmosas deixaram saudades e vontade de voltar.
ola!! a pouco mais de tres meses atras fiz o mesmo roteiro deste post e digo q foi uma das melhores coisas q fiz na vida!! obrigado Vera!!!
Oi Carlos bom dia!!!!
Que legal que você fez esse percurso. Apesar do percurso ser curto e muito lindo e com cidadezinhas encantadoras.
Fico feliz que tenha gostado.
Abraços