O Caminho   Português de Santiago  :  mais uma vez parti para uma viagem solo. E já foram várias. A primeira delas foi o Caminho Francês de Santiago de Compostela (relatada aqui). Percorrendo o Caminho Francês , tive que a certeza que uma viagem solo,quando bem planejada é para nós mulheres.

Um bom planejamento significa principalmente um trabalho de consciência e ambientação com a rota. Ler muito sobre o percurso, buscar informações e conhecer a experiência de outros ciclistas.

Estratégia que para mim funciona bem. Tento me familiarizar o máximo possível com o caminho antes de me “jogar sozinha” nele.

No site  http://www.caminhosantiagoviana.pt/ encontrei informações que me ajudaram muito no conhecimento sobre o percurso. Desde a história até os mapas.

Mas, como sou daqueles que ainda prefere os mapas impresso, a primeira coisa que fiz quando cheguei à cidade do Porto  foi ir até uma livraria Livraria Lello .

Lá encontrei dois guias que recomendo:  Mapas detalhados de John Brierley e o outro “Caminho Português de Santiago de Compostela – My Way” de Sergio Fonseca.

 O livro e mapa que utilizei.

O Caminho Português 

O Caminho Português para Santiago faz parte de uma rede de itinerários seculares com destino ao túmulo do Apóstolo Santiago. Os portugueses sentem-se muito orgulhosos de ser, desde as origens o povo mais ligado à cultura do Caminho de Santiago, e de possuir uma grande variedade de rotas para encaminhar-se ao Apóstolo.

São três os caminhos que saem de Portugal  com destino a Santiago de Compostela :  Caminho Português Central, Caminho Português da Costa e  Caminho Português de Interior. Os mapas aqui expostos estão  no site   http:/www.caminhosantiagoviana.pt/ , e  estão aqui reproduzidos com a autorização da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo. Agradeço muito!

Mapa com os três percursos saindo de Portugal

O mais percorrido é o CAMINHO CENTRAL, que passa por Lisboa, Coimbra e o Porto. Sinalizados desde Lisboa com as  setas amarelas e, por vezes, com uma vieira amarela sobre fundo azul, o símbolo oficial.

O CAMINHO DE BRAGA faz a união com o Caminho Central na Vila de Ponte de Lima.  Há alguns aspectos menos favoráveis, tais como alguns quilômetros a mais que o da Costa e menos albergues. Não é um percurso muito utilizado.

O CAMINHO PORTUGUÊS DA  COSTA deriva do Caminho Português Central, como uma alternativa de ligação à Galiza. Usando este caminho e a partir do território português era possível alcançar a Galiza através da travessia do Rio Minho, quer ela fosse feita ligando Caminha a “La Guarda” e “Baiona” ou seguindo o Rio Minho até Vila Nova de Cerveira e daí continuando para Valença e Tui.

Comparando com o Caminho Francês, o  Português da Costa tem o atrativo de começar em um país de língua portuguesa.

Além disso, como em todos os Caminhos de Santiago, ele está bem sinalizado com flechas amarelas, principalmente se a cidade de partida é o Porto.

E mais, é possível se deliciar com a culinária portuguesa e a alegria especial das pessoas.

Minha escolha : Caminho Português da Costa 

A ideia inicial era fazer o Caminho Central – o mais tradicional, saindo de Portugal, mas optei em fazer o Caminho Português da Costa. Mas havia terminado dias antes um pedal pela Costa do Alentejo e Algarve e estava simplesmente encantada com a costa portuguesa. O desejo de continuar beirando o mar foi decisivo.

 

Mapa do Caminho Português da Costa

O Caminho da Costa, parte do Porto e segue passando por Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo e Caminha.

Ganhou relevância durante a Idade Moderna e, sobretudo, a partir do século XVIII, sendo utilizado pelas populações costeiras e pelos que desembarcavam nos portos marítimos. Nesse período foi um dos eixos mais importantes para alcançar Santiago de Compostela.

Já na Galiza, desde A Guarda até Redondela (68 km de caminho monacal, o itinerário transcorre por: A Guarda, O Rosal, Oia, Baiona, Nigran, Vigo, Redondela) cruza com o caminho que vem de Tui. O itinerário completo desde o Porto até Santiago, passando por La Guardia e Vigo, é de cerca de 260 km.

O meu percurso foi de 7 dias de pedal e 360Km… Sim 100 km a mais, claro que com erros e acertos e sempre que tinha oportunidade explorava além!!!!

A Bike

Aluguei minha bike no site www.bicigrino.com.Todo o meu contato foi com Tomas Sanches através de e-mails e, conforme planejado, minha bike chegou onde havíamos combinado – Biclas & Triclas – Largo de Artur Arcos Rua da Arménia 30, R. Nova da Alfândega Porto, sem nenhum problema. Recebi a bike montada ,revisada e junto com ela a  Credencial do Peregrino: indispensável e exclusiva para quem percorre o Caminho.

O ponto de partida: Porto

Classificada pela UNESCO como Patrimônio Mundial desde 1996, Porto é uma das cidades mais importantes da Península Ibérica. As suas origens remontam à Idade de Bronze (século VIII A.C.). Hoje é uma cidade dinâmica e voltada para o futuro, onde a modernidade e a tradição convivem em plena harmonia.

Cidade do Porto

Ponte de D. Luiz

Hospedagem na cidade do Porto : Gallery Hostel (super recomendo. Ma-ra-vi-lho-s0!).

Porto é uma cidade incrível e vale a pena reservar uns dois dias para explora-la antes de seguir pedalando. Foi o que fiz!

Apesar de já conhecê-la , revi todos os pontos interpresantes e principalmente a Catedral Sé do Porto .

A construção construção da catedral teve início no século XII e naturalmente sofreu diversas modificações ao longo dos séculos seguintes, especialmente no século XVIII.

Sua estrutura é, portanto uma amálgama, mas o seu estilo mais marcante é o barroco. Entretanto, a bela rosácea, bem como o claustro, ambos datando do século XIV, são os mesmos desde sua construção.

A Catedral da Sé do Porto está situada na parte alta da cidade. A entrada é gratuita.

Catedral Sé do Porto

Interior da Catedral – Altar Mor

Já para visitar o claustro, o ingresso custa 3 Euros.

O Claustro da Sé

Depois de dois dias explorando a cidade , chegou a hora de seguir pedalando através do Caminho Português da Costa com destino a Santiago de Compostela

1º dia de pedal: Porto a Esposende- 80,70km ( com erros e acertos )

O Caminho Português da Costa inicia-se na Catedral Sé do Porto.  Me programei para sair logo nas primeiras horas da manhã. A Catedral só abre às 10hs,então no dia anterior  carimbei a minha credencial.

Da Catedral da Sé para a Santiago de Compostela

Esta primeira etapa pode ser feita por dois percursos diferentes:o primeiro segue as sinalizações — o Caminho da Costa —, trecho que deriva do Caminho central, nesse percurso eu deveria procurar as indicações para Barcelos e pedalar pela área urbana do Porto. Mas pedalar pela área urbana não estava meus planos.

 A outra hipótese era seguir o caminho para Matosinhos e Leça da Palmeira até Vila do Conde e Póvoa de Varzim, pela orla (Senda Litoral), muitos portugueses com quem conversei sugeriram esse percurso. Então essa foi essa minha opção.

Caminho Português da Costa

Senda Litoral do Porto – Póvoa de Varzim – A caminho de Santiago de Compostela

Farol Molhe do Douro – 1 etapa do caminho

Depois de Matosinhos atravessei uma ponte móvel e segui por uma ciclovia junto ao Porto de Leixões. 

Pouco depois de Angeiras, o percurso segue literalmente pela praia, alguns trechos por passadiços de madeira em cima das dunas da praia.

A Capela da Boa Nova

Obelisco da Memória – Praia da Memória

Chegando a Vila do Conde, logo na entrada avistei o “cartão de visita” da cidade : o Convento de Santa Clara.

A partir daí o percurso é muito simples e segue pela ciclovia que liga à Póvoa de Varzim.

Passei por uma pequena cidade –Fão, e fui privilegiada com uma festa local.

Segui rumo a Esposende – destino final do dia. Fui até capela da Misericórdia onde carimbei minha credencial . Fiquei hospedada no Hotel Suave Mar.

O percurso programado de 53 km, com erros e acertos e explorando tudo o que via terminou com 80,70km.

2º Dia de Pedal: Esposende a Vila Porto Âncora 56,46 KM

Logo pela manhã deixei a cidade. O caminho seguiu ao longo da EN 13, até chegar ao albergue de S. Miguel de Marinhas, onde parei para carimbar a credencial.

Em seguida por Belinho. Na pequena cidade  ainda era possível ver nas ruas os lindíssimos tapetes de flores (areia, vidro e outros materiais), feitos por onde passa a Procissão do Senhor dos Enfermos –  que se realizam todos os anos  no domingo seguinte à Páscoa.

Na Freguesia de Antas, o Caminho Português da Costa segue junto aos muros graníticos das casas de Belinho, percorrendo a antiga via romana.

Passei por uma floresta com uma trilha difícil e estreita – em especial para quem vai com alforges até chegar às margens do rio Neiva.

Monumento em pedra sobre o Caminho da Costa.

O percurso continua por uma trilha sinuosa e, pela ponte do Sebastião atravessando para outra margem onde se localiza Castelo de Neiva.

O caminho foi alternando entre pequenas localidades,montanhas e campos.

Desci a serra local pelo acostamento da rodovia. Segui pela EN 13 até atingir o rio Lima e chegar a Viana do Castelo pela ponte Eiffel. Segui as setas amarelas que me levaram até a Sé Catedral de Viana, no centro histórico.

Explorei a cidade, visitei os principais pontos de interesse. Depois,segui pedalando por uma das zonas mais bonitas do percurso. Passei por seculares caminhos empedrados e por quintas cercadas por altos muros que ladeiam o Caminho.

Segui por Areosa, Quinta Boa Viagem, Carreço passando por casas agrícolas, igrejas, capelas, até atravessar uma linha de trem e dai chegar a Afife. Segui por trilhas florestais em direção a Vila Praia de Âncora.

Museu Paroquial de Vila Praia de Âncora

Chegando a Vila decidi pernoitar ali. Fiquei no Hotel Meira.

3º Dia De Pedal: Vila Porto Âncora a Guarda 46,30 km

Vila Praia da Âncora

Deixei Vila Praia de Âncora logo pela manhã e segui em direção ao mar e logo encontrei uma ciclovia.

Depois da ciclovia o caminho foi por uma trilha e por um longo trecho fui acompanhando as  ovelhas , cabras e seus pastores.

Pedalei por ela até que chegar centro de Caminha.

Uma pequena cidade medieval de fronteira situada na foz do rio Minho, onde várias batalhas foram travadas entre Portugal e Espanha.

A pequena cidade de Caminha

Rio Minho

A partir de Caminha há duas opções para seguir : a mais rápida e bonita é feita de barco ou  dar a volta pela ponte internacional em Vila Nova de Cerveira

Mas,  nem sempre há disponibilidade de barco e o percurso pela ponte   aumenta  em torno de 25 km e é  feito pela estrada N13.

Eu tinha tempo, nem busquei informações sobre o barco. Optei pela Vila Nova Cerveira e atravessei a ponte internacional (Ponte da Amizade) até Espanha, para chegar a A Guarda, do outro lado do Minho.

Ponte internacional (Ponte da Amizade)

Esse trecho não esta sinalizado por ser um desvio devido à ausência de barco, mas é muito fácil de seguir. Depois de atravessar a ponte, tem uma rotatória e é só seguir em direção a Goián pela a estrada PO-552, que tem uma excelente ciclovia ao longo de praticamente todo o percurso, até chegar a A Guarda (Galícia) – à beira do Atlântico e do rio Minho, cidade que divide Portugal e Espanha.

A Guarda

Na cidade fiquei hospedada em um antigo monastério fundado em 1558 – Hotel Convento São Benedito – arquitetura maravilhosa e cheio de histórias (mais parecia um museu) . Programei-me para explorar a cidade a tarde  e na manhã seguinte subiria o Monte de Santa Tecla.

Hotel Convento São Benedito – Monastério fundado em 1958

4º Dia de Pedal:  A Guarda a Baiona 42.30 Km

Pela manhã deixei meus alforges no hotel e segui para o Monte SantaTrega –vizinho a cidade da A Guarda  e a com uma altitude de 341m e com subidas forte.

Um lugar histórico muito curioso e importante principalmente pela comprovação da passagem dos celtas por aquela região.

No monte fica o – um sítio arqueológico, pertencente à cultura castreja.

As ruínas celtas nos remetem ao passado e talvez expliquem como esta cultura ainda resiste forte na Galícia.

A subida ao Monte Santa Trega foi fantástica!

De volta ao hotel peguei meus alforjes e segui sempre junto às costa e logo depois por uma ciclovia junto a PO-552, passando por  Oia, com o seu impressionante mosteiro.

Mosteiro de Santa María de Oia – Construído praticamente em cima do mar, desafia a bravura do Atlântico e o ímpeto das suas ondas.

De Oia até Mougas o caminho foi por uma estrada de terra e depois uma ciclovia.

Por entre praias, falésias e campos cultivados, vendo o mar batendo nas rochas o Caminho segue até a encosta do Cabo Silleiro para seguir em direção à cidade de Baiona.

Apesar do azul turquesa lindíssimo do mar, a costa é repleta de rochedos. Praticamente não existe praia e o vento é terrível! Difícil também, foi o som sibilante produzido pelo vento nos ouvidos, extremamente desagradável. Foram longos e penosos quilômetros pedalando contra o vento.

Logo após o cabo Silleiro, foi possível ver as Ilhas Cies – pequeno arquipélago  (Parque Nacional Marítimo Terrestre das Ilhas Atlânticas da Galiza ).

Segui pela ciclovia até a cidade de Baiona – destino final do dia.

Baiona é o que todo mundo espera encontrar de uma cidade histórica galega: casas de pedras ou granito, templos e igrejas seculares, cruzeiros e fontes nas praças, ruas estreitas de pedra, e  tudo isso gera um conjunto histórico dos mais harmoniosos e bem cuidados da Galícia.

Fiquei hospedada no Hotel Pinzon.

5º Dia de Pedal:  Baiona a  Pontevedra  65 Km

De Baiona, segui paralelo à marina da cidade em direção ao cruzeiro da Santíssima Trindade até cruzar o rio Miñor, através da sua ponte medieval e assim chegar a Ramallosa.

Ponte medieval de Ramallosa (Sec. XIII).

De Ramallosa a Vigo enfrentei duas fortes subidas e passei pelas Rías Baixas, onde o mar entra pelo rio ladeado por montanhas.

Por entre bosques e pequenas aldeias, cheguei à cidade de Vigo,

entrando através do parque cidade (Parque Castrelos) e seguindo o rio Lagares. As setas me levaram ao centro da cidade com um transito movimentado e confuso. Por varias vezes na cidade pedi ajuda para reencontrar o caminho de volta. Vigo é uma cidade grande.

Depois de atravessar a área urbana da cidade, encontrei a Senda da Auga, um caminho que me levou até Redondela

De Vigo a Redondela também tem subida, mas nada tão difícil.

 A partir de Redondela o número de Peregrinos no Caminho aumenta muito. A partir dali o percurso é coincidente com o “Caminho Central”.

De Redondela segui  até chegar a Ponte Sampaio e cruzar a ponte medieval sobre o rio Verdugo.

Depois ,uma a subida de Canicouva até ao Cacheiro e finalmente uma descida em direção à cidade de Pontevedra – destino final do dia.

Ponte Burgo – Pontevedra

Cheguei a tempo de explorar o centro histórico da cidade.

Santuário de La peregrina – Pontevedra

Convento de São Francisco – Pontevedra

Praça da Ferrería – Pontevedra

Em Pontevedra fiquei hospedada no Hotel Rias Bajas.

6º Dia de Pedal:  Pontevedra  a  Padron 39,70 Km

Deixei a cidade de Pontevedra e segui ao longo do vale em direção ao povoado de Barro.

A igreja de Santa Maria de Alba é de estilo neoclássico-barroco

No povoado  de Barros , 18Km   depois de Pontevedra há um restaurante “A Casa Don Pulpo”. Lá os peregrinos recebem ali uma vieira com a frase “ Una tortuga conece mejor el caminho que uma liebre” .   Parei para perguntar e  não encontrei quem soubesse me informar a respeito. Segui pedalando, a partir dali o caminho é largo e tranquilo até entrar em Caldas de Reis.

Segui pela N550 até chegar ao vale do rio Bermaña. Continue através de um  bosques que me levou até o povoado de Cruceiro. O  caminho foi intercalando com estradas de terra, passando por Carracedo, San Miguel e Pontecesures. 

Finalmente Padron,  onde segundo a lenda, aportou a barca que transportou o corpo do Apóstolo até à região da Galiza. Conhecida também pelos famosos pimentos . Foi aqui que pernoite, pela primeira fez na viagem em um Albergue – maravilhoso ( super recomendo ) – Albergue Camiño do Sar

7º dia de pedal:  Padron a Santiago 30,60 Km

Deixei Padron e segui para norte até à Colegiade de Santa Maria de Iria Flávia. Continuei por entre aldeias galegas até chegar a Santiago de Compostela . Atravessando os subúrbios  por um percurso que me levou até à porta Faxeira, entrada do Caminho Português na cidade velha. E, é através de labirinto de ruelas do casco medieval segui até à Praça do Obradoiro e à Catedral. A emoção da chegada não foi grande (como no Caminho Francês), mas a satisfação de ter completado mais um caminho solo, esta foi grande.

Resumindo, foram 312 km!!! Um  caminho que, em  minha opinião, não tem a mesma magia que o caminho Frances.

Mas, de uma beleza de encher os olhos!

Um bom Caminho!!!!!

Clique aqui para acessar a segunda etapa